quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Jornada de fé V: milagres da colportagem

Essa é a quinta de uma série de reflexões sobre os melhores momentos vividos por Ribamar Diniz e família durante sua preparação para o ministério pastoral, na Universidade Adventista da Bolívia.

Com meus colegas de curso aprendemos a respeitar todas as culturas, e com meus professores aprendi lições que nortearam meu futuro. Mas fora da faculdade, em outra escola também recebi orientações inesquecíveis. Além de ser uma “Escola de golpes duros”, a colportagem também é uma “universidade para se alcançar sucesso”.

A Universidade do sucesso

Palestra no Hospital Adventista do Pênfigo 
“É impossível vender tantos livros em um mês!” Pensávamos com minha esposa. Mas ao estudar teologia através da colportagem, nos convencemos que estávamos enganados. Graças à colportagem, visitei seis países (Brasil, Bolívia, Paraguai, Peru, Equador e Chile), colportamos em cinco uniões (Centro Oeste Brasileira, Nordeste, Norte, Noroeste e Equatoriana)[1], e fizemos palestras em dezenas de empresas, distribuindo centenas de livros com a mensagem do céu.

Com Alberto Amador Mero e Gleisson Henrique de Freitas, colportei no Equador, que foi parte do domínio inca. Na viagem cruzei o Peru, antiga sede desse império e escutei histórias de sua cidade perdida, Machu Picchu, e de Cusco, capital do Império Inca e a cidade mais importante dos Andes por 100 anos. Provei da gastronomia peruana, considerada uma das melhores do mundo e tomei quanigua, um delicioso suco quente, quando cruzei a fronteira na cidade de Desaguadero.

No Brasil, enfrentei uma situação difícil ao cobrar 29 coleções numa empresa. A diretora de recursos humanos, com o cheque em mãos, disse: “Gostei da palestra, mas não desse livro [Tempo de Esperança]. Você está induzindo meus colaboradores a não trabalhar no sábado.” Orei silenciosamente e logo respondi: “Você sabe que esse livro foi um presente. Além disso, as pessoas vivem estressadas hoje em dia porque não tem tempo para Deus, para elas mesmas e para a família; portanto, esse livro orienta as pessoas a descansar um dia por semana. E apresenta o dia indicado pela Bíblia.” Ela me olhou, confessando: “Eu sei, sou batista”, e me entregou o cheque.

Em outra ocasião, quando já não sabíamos o que fazer, Deus nos guiou ao concílio de pastores da Associação Sul-Matogrossense e ao Hospital Adventista do Pênfigo (em Campo Grande), onde vendemos livros para pagar o semestre.

Outro acontecimento espetacular foi quando, em três minutos, conseguimos vender (Josimar Souza e eu) quatro caixas de livros, totalizando 6.000 reais. Isso foi em Corumbá, Mato Groso do Sul, em julho de 2012.

Com esse mesmo companheiro, tivemos uma experiência singular na capital brasileira, considerada uma das cidades mais organizadas do mundo. Conseguimos vender 815 livros da Sociedade Criacionista Brasileira, (a maioria sobre criacionismo) para fortalecer o estudo da lição da Escola Sabatina sobre as origens[2] e a ênfase que a igreja deu ultimamente sobre o criacionismo bíblico. Parte desses livros foi vendida no concílio de pastores da União Centro Oeste Brasileira, quando, graças ao apoio da União e de seus campos, distribuímos cerca de 300 livros.[3] Em Brasília também vendemos uma caixa de livros a primeira senadora da história do Brasil[4], na última oferta da campanha.

Palestra aos Bombeiros de Campo Grande
O milagre dos tres dias

A primeira campanha, em julho de 2008, foi a mais desafiante. Fomos a Sorriso, uma rica cidade do Mato Grosso, considerada a “maior produtora de soja do mundo”. Ali constatamos que o que é impossível para os homens, é possível para Deus (Lucas 18:27).

No final da campanha, vários colegas não tinham dinheiro para retornar a Universidade. Alguns perderam o semestre. Eu tinha somente 800 reais e um grande desafio: conseguir em três dias o que não havíamos conseguido em um mês. Com meu companheiro, Josué Moraes, seguimos trabalhando, confiando em um milagre. Cada dia, ele dizia: “Vamos entrar no livro das Historias de Colportor.”

Deus fez um milagre em três dias. Cada venda foi uma intervenção direta do céu. Numa quarta à noite, chegamos à Igreja Adventista Central no final do culto e vendemos quatro coleções da Bíblia Ilustrada para a Família (6 volumes). De ali para frente, as vendas aumentaram de forma espetacular.

No sábado seguinte fomos à cidade de Vera, e vendemos outras quatro coleções, além de outros livros. Ali, um irmão que estava afastado da igreja, nos doou 1.500,00 reais.

Pouco depois visitamos uma missionária pentecostal que não podia comprar a coleção, pois seu esposo estava preso. Quando apresentamos um volume, ela afirmou que havia visto na televisão justamente a parte da historia que eu estava mostrando. Ela sentiu que Deus a guiava a adquirir pelo menos um volume. Josué apresentou uma palestra em sua igreja com umas seis pessoas presentes. Por incrível que pareça, ali vendemos uns 700,00 reais. No final dos tres últimos dias de campanha, conseguimos ganhar 3.000,00 reais, cada um. Voltamos a UAB, convencidos que Deus continua fazendo o impossível.

Assalto na Igreja
Passamos por situações difíceis e inusitadas em cada campanha. Em Belém do Pará, por exemplo, na primeira igreja evangélica que conseguimos agendar enfrentamos uma situação de extremo perigo.
Essa igreja estava localizada no bairro Curusambá, um dos mais perigosos de Belém. Tivemos muita dificuldade para encontrar o local. Depois da apresentação do Josué, usando apenas o computador, começamos a oferecer os livros. No momento em que uma irmã ia assinar o pedido de uma coleção, entraram na igreja dois ladrões, que, com uma arma em punho, tomaram duas caixas de som do pastor, que estava a poucos metros de nós.
Os ladrões saíram correndo pela rua. Todos ficaram nervosos. Enquanto os dois pastores saíram correndo, pedi aos irmãos que entrassem na igreja e fechassem o portão. Quando ouvimos disparos, as irmãs gritaram: “misericórdia”. Entretanto, logo os pastores voltaram. Um deles trazia uma caixa de som nas costas. As irmãs então gritaram “glória a Deus, pastor”. E ele respondeu: “Eu cheio da unção ia deixar o diabo levar a caixa de som?” Saímos daquele lugar no carro de um membro da igreja, preocupados pela situação, mas confiantes que Deus tinha um plano.
Apesar dessa tristeza inicial, no Pará tivemos muitas alegrias. Vendemos muitos livros, provamos vários pratos típicos e conhecemos vários lugares interessantes.
No meio do mundo

Universidad Cristiana Latinoamericana, Equador
Na Universidade fizemos amigos equatorianos. Um deles, Alberto Amador, nos convidou para colportar no país que divide o mundo. Equador é famoso pela linha imaginária que divide o hemisfério norte do sul. Durante a viagem, acompanhado pelo casal Enoth Chávez e Cinthia pude comprovar que “o povo equatoriano é muito simpático e receptivo.” Gleisson Henrique de Freitas, que veio dos Estados Unidos onde estava colportando, seria meu outro parceiro de trabalho.

Lá as pessoas comem variados pratos feitos com banana. O Equador é o maior exportador dessa fruta da América do Sul. Na viagem, olhava as imensas plantações de banana que se perdiam de vista. Outro fato curioso é que na hora da comida sempre servem suco, especialmente de limão.

Fizemos um trabalho pioneiro com empresas, abrindo o campo para futuros colportores desse setor. Uma das melhores experiências aconteceu na Universidade Cristiana Latinoamericana, na cidade de Montecristi. Amador havia agendado uma palestra. Apresentei com entusiasmo o tema sobre as quatro chaves do sucesso. Ao finalizar a palestra, a reitora se aproximou de mim, interrompendo e perguntando o preço do livro Vida de Jesus. Disse-lhe que em seguida ia explicar o plano. A ideia era vender com desconto em folha. Mas ela insistiu, querendo saber o preço. Eu pensei que ia perder a venda! Mas ela explicou-me que queria comprar para todos!  Além desses materiais, vendemos mais alguns exemplares do livro Cuerpo Sano [Corpo Saudável], uma verdadeira enciclopédia do corpo humano.                                                                   
Apesar dessa palestra bem sucedida, nessa cidade e onde estávamos hospedados, não conseguimos agendar mais nenhuma empresa. Já estávamos há vários dias hospedados na casa do avô de Amador, um capitão de navio aposentado. Esse lobo do mar havia cruzado as fronteiras oceânicas conhecendo vários países. Disfrutamos da hospitalidade dos vizinhos, tios de Amador. Eles eram pescadores e todos os dias uma sobrinha vinha convidar-nos para tomar o desjejum, almoçar e jantar. A base de todas as refeições era peixe. Cada dia havia um prato delicioso e diferente. Ali aprendemos a comer seviche, peixe cozido apenas no suco de limão.
Apesar dessa linda experiência na cidade de Manta, os dias iam passando. Nossas economias também se acabavam. Oramos e decidimos viajar umas cinco horas, rumo a Guayaquil, cidade principal do país, com mais de 2 milhões de habitantes. Antes de ir colportar na cidade, havíamos visitado uma de suas igrejas (La puntilla), onde um jovem brasileiro estava trabalhando como pastor auxiliar.
Nessa viagem provamos deliciosos doces, vendidos nas estradas e um bolo de banana sem igual. Os doces são variados e vem em um potinho de plástico. Quando penso naqueles doces, ainda sinto na boca o sabor.
Junto a la Iglesia de La Puntilla organizamos um programa especial para a Urbanização Entre Rios, numa zona rica da cidade. À noite, compareceu um bom número de pessoas. Amador e eu apresentamos duas palestras sobre motivação e saúde. O público gostou. A oportunidade abriu espaço para novos contatos e programas naquele lugar. Nessa igreja, buscamos os irmãos que eram empresários. Três deles abriram as portas de suas empresas, pagando inclusive 50% do valor dos livros. Outros indicaram empresários amigos. Uma das irmãs, Lucy Icasa, comprou todos os livros para seus funcionários.
Apesar dessas bênçãos, no final do trabalho surgiu uma situação difícil. Tudo aconteceu no centro da cidade de Guayaquil. Gleisson e eu entramos num hotel para apresentar nossa proposta, enquanto Amador estacionou o carro. Depois de sair do hotel, nos dirigimos ao local combinado. De longe, avistei Amador, com o rosto coberto de sangue. Pensei que ele havia sofrido um acidente grave. Mas, na verdade, foi um desentendimento com outro motorista. Ele queria passar na rua e ofendeu a Amador. Partiu pra cima dele, golpeando seu rosto. A polícia chegou. Foram momentos difíceis. Enquanto eu limpava o rosto de Amador, chamamos seu irmão que compareceu ao local, levando-nos para um lugar seguro. Amador perdoou o agressor.
Alguns dias depois esse clima de tristeza foi mudado ao passear por uma parte da cidade de Salinas, onde nos banhamos pela primeira vez nas águas do oceano Pacífico.
Colportando em Arica, Chile
No fim do mundo
Durante meus estudos distribuí literatura cristã e preguei em dezenas de igrejas. Uma das melhores (e mais desafiadoras) experiências aconteceu no Chile, em julho de 2013. Nunca imaginei que o último período de férias seria tão difícil e abençoado ao mesmo tempo.
Depois do Brasil, o Chile é o país mais rico da América do Sul, sendo um dos mais desenvolvidos das três Américas. Alguns creem que será o primeiro país sul americano a vencer o subdesenvolvimento[5]. Além disso, está situado no ponto mais extremo de nosso continente, sendo considerado o “país onde o mundo acaba”. Várias circunstâncias fizeram-me decidir conhecer esse lugar.
Em primeiro lugar queria ter contato com a Igreja Adventista do Sétimo Dia no Chile. Além disso, ouvi histórias de pastores brasileiros que trabalharam na região. Entre eles Felipe Santos (que se graduou na Universidade Adventista do Chile e hoje é pastor no Mato Grosso); Jeú Caetano, natural de meu estado (Ceará) que foi departamental de mordomia na União Chilena; Stanley Arco (presidente da União Boliviana); João Vicente (gerente de vendas da Casa Publicadora Brasileira) e Adílson Morais (departamental associado de publicações da Divisão Sul Americana).  
O maior motivo, porém, foi entender que Deus teria uma obra especial para eu realizar nesse lugar. Isso se tornou mais evidente quando orei a Deus sobre a viagem, buscando Sua vontade a respeito. Certo sábado quando estava sentado num banco na última fila da Igreja Central de Cochabamba, sentou-se ao meu lado uma jovem de pele branca e alta. Eu disse-lhe: “Você não é daqui.” Ela respondeu: “sou chilena.” Aí entendi tudo. Quando expus meu desejo de conhecer seu país, Nayat garantiu que sua mãe (Carina Guerra) poderia apoiar-me nesse sentido. Com seu número de celular na agenda; 500 livros na bagagem e muita expectativa embarquei rumo a uma aventura.
No Terminal Rodoviário de Cochabamba, troquei moeda local (peso boliviano) para peso chileno, levando pouco dinheiro na carteira. A viagem de Cochabamba até Arica, no Norte do Chile levaria 12 horas. No caminho, mastiguei chiclete para desobstruir os ouvidos, devido à altitude de Oruro, estado boliviano limítrofe com Chile. Outros passageiros preferiam tomar comprimidos para a altura. A paisagem durante o trajeto era imponente e variada, caracterizada por montanhas, plantações diversas, rebanhos de ovelhas, lhamas e pequenos povoados.
Quando chegamos à fronteira, vislumbrei duas montanhas cobertas de neve. O ônibus parou na Aduana, onde a bagagem seria revistada. Embora os agentes fossem muito educados, esclareceram que, a despeito de ser o autor, tinha que pagar o imposto dos livros. Depois de contarmos os exemplares, uma agente conseguiu um bom desconto, porque confessou que era amante da leitura. O valor excedia os 20 mil pesos chilenos que eu tinha. Nesse momento, pedi 2 mil pesos emprestado ao motorista, que estava bastante aborrecido pela demora. Completei o valor trocando um pouquinho de dinheiro que ainda tinha.
Imediatamente ao entrarmos no ônibus, o motorista disse que eu teria que pagar o excesso de bagagem. Apesar de dizer que, ainda no embarque, havia aclarado a mercadoria que levava, ele parecia irredutível. Minha preocupação foi tanta que pensei que, por causa desse problema, ele poderia deixar-me na estrada. Como fiquei sem nenhum centavo no bolso, comecei a orar silenciosamente e pensar numa estratégia para conseguir algum dinheiro.
Numa parada, já próximo de Arica, conversei com uma jovem, que ao invés de emprestar-me, me deu 2 mil pesos “de todo o coração”. Contei minha situação ao passageiro do lado. Ele emprestou-me somente mil pesos. Quando chegamos a Arica, umas 9 horas da noite, eu não queria encarar o motorista. Felizmente ele estava dormindo. Por isso, deixei o valor que devia com o novo motorista, quem de igual forma insistiu que eu pagasse pelo excesso de bagagem. Quando lhe expliquei que já não tinha dinheiro, ele deixou-me em paz. Desci em frente ao Terminal Internacional de Arica, um pouco mais aliviado. Minha tranquilidade durou pouco.
Quando liguei para a irmã Carina Guerra (usando um telefone público com moedas), ela disse que estava muito longe e me deu o telefone do pastor distrital. Quando consegui falar com o pastor Yerri Rozado, ele disse que estava na cidade de Iquique, há 5 horas dali. A preocupação aumentava e minhas moedas acabavam, enquanto tentava explicar minha situação ao pastor e a irmã, em várias tentativas. Quando já não consegui falar com eles, pedi ajuda a uma jovem de um quiosque, que usou seu celular para chamá-los.
Em determinado momento, pensei que ficaria sozinho ali, tendo que dormir na rua. Também temia um assalto, pois me haviam advertido sobre esse perigo. Nesse momento, angustiado, escrevi um pedido simples, na agenda: “Oh, Deus, ajuda-me”. 
Depois dessa oração, consegui falar com a irmã Carina, que me perguntou com que roupa estava e veio buscar-me. Já eram mais de 10 horas da noite. Ela levou-me a Pensão de Donde Patty Carlos, onde fiquei hospedado os primeiros 10 dias. Também me deu uma pequena provisão para o começo do trabalho. Depois de agradecer a Deus e dormir aquela noite, decidi começar o trabalho no dia seguinte, quando vendi os primeiros livros. As duas primeiras semanas foram muito difíceis...
Quando viajei ao Chile, pensei que as coisas seriam mais fáceis. Se você já distribuiu literatura adventista, sabe que esse ministério é repleto de desafios, às vezes intransponíveis. Em minhas campanhas anteriores como estudante, havia enfrentado grandes obstáculos. Geralmente os resultados apareciam no final do trabalho (geralmente nas últimas semanas ou dias). Mas, no Chile, pensei que as coisas seriam diferentes. Porque eu pensava assim?
Em primeiro lugar, eu iria distribuir um livro de minha autoria. Isso poderia facilitar as vendas, já que seu preço seria bem inferior aos livros tradicionais de Colportagem. Em segundo lugar, eu já era um colportor experiente, com dez férias trabalhadas. Essa experiência impediria que eu cometesse erros. Em terceiro lugar, meu projeto era muito bom, e a Igreja certamente iria abraçá-lo. Eu realmente estava confiante. Afinal de contas, seria minha última campanha. Não haveria porque surgirem problemas. 
Além das dificuldades na viagem, senti nos primeiros dias um misto de alegria e preocupação. Alegria porque consegui agendar algumas igrejas evangélicas. Preocupação porque outras igrejas não aceitaram a proposta, por puro preconceito. Uma pastora e um pastor evangélico disseram-me que a Igreja Adventista “era uma seita.”[6] Na minha Igreja, pensava, as coisas seriam diferentes. Mas descobri que a maioria delas não realizava cultos nos domingos à noite. E o número de participantes nas quartas-feiras à noite era bem reduzido. Isso me fez pensar que não seria fácil mover o povo adventista de Arica. Outro problema apareceu, de forma involuntária.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia no Chile, a semelhança do país, está bem organizada. Quando alguém pretende trabalhar junto às igrejas, precisa solicitar uma autorização da União e do Campo local. Por vários motivos, a autorização que solicitei não chegou a tempo e os pastores locais, com razão, não puderam permitir-me visitar suas igrejas e membros, nas primeiras semanas.
Consegui vender os primeiros livros no Colégio Adventista de Arica, graças ao apoio do capelão, Juan Marin e do diretor, Prof. Marcelo Funes. As vendas nas igrejas evangélicas não foram animadoras. Somando o que havia vendido e olhando as caixas de livros, pensava se não havia levado muito material. Raciocinava se não seria melhor haver levado apenas 300 exemplares. Calculava que precisaria vender 15 exemplares por dia, durante o mês, mas estava vendendo poucos durante a semana. Além do desânimo das vendas, tive problemas de saúde.  
No primeiro sábado em Arica, senti um mal estar generalizado. Estava tão debilitado, que fui até o hospital municipal, onde tomei soro e fui medicado. Aquele sábado não sentei em um banco para assistir ao culto, pois passei parte da manhã no leito de um hospital. Já no final das atividades, precisei regressar ao estabelecimento médico por causa de uma inflamação nas amigdalas. Esses problemas de saúde quitaram parte do pouco dinheiro que tinha e abalaram fortemente minhas emoções.
Além dos problemas de saúde, me furtaram uma bicicleta, emprestada por um irmão. Tudo aconteceu numa lanhouse, quando estava conversando com minha esposa pelo facebook. Deixei a bicicleta sem cadeado. Apesar disso, olhava pelas brechas da cabine, vendo a bicicleta. Num piscar de olhos, a bicicleta sumiu. Saí correndo da cabine correndo e olhando por todos os lados, mas não vi nada. Perguntei a algumas pessoas, explicando o que havia acontecido, mas ninguém viu nada. Chamamos os Carabineiros (Polícia Chilena) que fizeram a ocorrência no local, mas disseram ser difícil encontrar a bicicleta.
Retornei ao lugar onde estava hospedado, sem muita preocupação. Sabia que Deus tinha um plano em tudo aquilo. Quando a atendente da lanhouse soube, ficou um pouco triste. Sabendo que ela era adventista, mas não estava assistindo a Igreja, disse-lhe tranquilamente: “Sabe, irmã, foi bom ter acontecido isso porque é mais uma prova que esse mundo não é para nós. Um dia vamos viver num lugar melhor”. Espero que essas palavras tenham motivado aquela irmã a regressar para a Igreja. 
Cheguei a pensar que, se os problemas continuassem, seria prudente trasladar-me a outra cidade. A minha maior alegria naqueles dias foi acompanhar a vitória do Brasil (3x0) frente à Espanha, pela Copa das Confederações. Além desses problemas, algumas pessoas me desanimaram motivando-me a viajar logo a outro lugar.
Alguns disseram que seria melhor ir às cidades mineiras (Iquique, Antofagasta e Calama), ou a Santiago (a capital do país). Outros disseram que as pessoas de Arica não compram, porque não tem muito dinheiro disponível e tem outra cultura. Isso me confundia. Mas a todos esses críticos de plantão, respondia respeitosamente que, como havia orado por Arica, permaneceria ali.  
Minha oração naqueles dias era: Que o Senhor me ajude. Ele me ajudou de forma espetacular...
A frase do pastor Yerri Rozado “quando algo começa difícil...”, ainda soava em minha mente quando terminei de vender os 500 livros. Esse foi meu recorde pessoal em um período de férias, durante minhas atividades como colportor estudante. Tudo começou durante meus diálogos com Deus, na pensão de Dona Patty.
Durante as duas primeiras semanas eu acordava e orava a Deus. Lia um capítulo da Bíblia, seguindo o projeto Reavivados por Sua Palavra[7] e um capítulo do livro O Desejado de todas as nações. Deus aumentou minha fé nesses encontros íntimos com Ele. Quando voltava do campo de trabalho, me ajoelhava e clamava a Deus por um milagre. Esses momentos de comunhão foram fundamentais para meu sucesso. Além de adquirir força espiritual, eu perguntei muitas vezes ao Senhor qual seria a melhor estratégia a utilizar. E ele respondeu-me.
Calculando quanto tempo restava e quantos livros havia, calculei que, se vendesse livro a livro, precisaria de um ano para terminar. Então, orei a Deus para mover os irmãos das igrejas adventistas e evangélicas a me comprarem 300 livros. As duas caixas restantes, pensei, teria que vender a duas pessoas.
Enquanto vendia kits com 2, 5 ou 10 unidades orava para encontrar os dois clientes para as compras maiores. Deus respondeu minhas orações e da minha esposa, que orava em Cochabamba, junto com suas amigas. Elas organizam, nas férias, uma semana de oração para interceder pelos esposos.
O primeiro cliente foi um empresário adventista. Como ele morava numa região atendida por uma colportora, pedi-lhe para acompanhar-me nesse dia. Quando chegamos a sua casa, não estava. Depois de falar com uma funcionária da casa, decidimos voltar depois. Quando estávamos saindo, ele chegou. Ele gentilmente nos convidou a entrar, servindo-nos suco com nozes, uvas passas, amendoim e outras guloseimas. Foi muito educado e hospitaleiro.
Diante dessa recepção, minha vontade era apresentar-lhe logo minha proposta. Mas sentia que primeiro, ele necessitava de uma mensagem espiritual. Embora meu objetivo fosse vender, sabia que o mais importante era pregar. Orei silenciosamente ao Senhor, perguntando-lhe que texto ler.
Abri a Palavra de Deus em Jó, lendo os primeiros versículos. Comentei, entre outras coisas, que esse patriarca era um homem próspero. Mas a Bíblia primeiro fala de sua consagração e lealdade ao Senhor. O texto sagrado também declara seu compromisso como sacerdote do lar. Depois de tudo isso se menciona a prosperidade de Jó. Argumentei com entusiasmo que, para ser verdadeiramente exitosos devemos colocar a Deus em primeiro lugar. Para que o Senhor abençoe nossa família devemos ser missionários no lar. Preguei para aquele auditório de uma só pessoa por quase meia hora. Quando terminei, fiz uma pergunta: “Irmão, como está a vida espiritual?”
Ele foi sincero, dizendo que passava por um período de frieza espiritual, por vários fatores. Motivei-lhe a renovar sua consagração a Deus e ser uma influencia positiva; um líder espiritual junto a sua família e empregados. Depois oramos. Senti que minha missão estava cumprida.
De maneira breve apresentei o projeto Quando Deus me chamou e a benção que seria distribuir 100 livros aos jovens da Igreja. Ele, de forma natural, disse que compraria uma caixa. Percebi que, quando estamos dispostos a ajudar espiritualmente os demais, Deus se encarrega de nossas necessidades. Saímos jubilosos do lugar. Faltava vender a outra caixa. 
Um dos kits com 10 unidades havia sido vendido a Sebastian Tenório, líder dos colportores efetivos na cidade. Ele convidou-me a fazer uma palestra para sua equipe. Pensei que poderia, na ocasião, vender alguns livros. Mas, quando uma das colportoras disse-me que Sebastian já havia oferecido a elas, decepcionei-me pensando que não venderia nada.
No dia marcado, cheguei e fiz duas palestras. Em uma contei minha experiência como colportor efetivo e estudante, durante 13 anos. Depois, dissertei sobre um tema motivacional. No final, fiquei em dúvida se apresentaria ou não os livros. Mas, decidi tentar. Perguntei-lhes: “algum de vocês ainda não tem esse livro?”. Algumas colportoras levantaram a mão. Quando segui falando, uma delas perguntou quanto custava uma caixa. Disse-lhe que, como ela revenderia o material, faria um desconto especial. Ela entusiasmou-se e comprou-me a caixa. Quase todas as outras compraram duas unidades e uma delas 10 exemplares.
Vender livros a vendedores de livros não é fácil. Sinceramente, nunca pensei que venderia ali a caixa que faltava. Glorifiquei a Deus mais uma vez, sabendo que, suas bênçãos podem vir de maneira e nos lugares mais inusitados. Como um grande amigo, Juan Marin, disse-me: “Quando fazemos o nosso melhor, devemos deixar os resultados nas mãos de Deus.”
Realmente o pastor Rozado tinha razão. No final da campanha, pude completar sua frase: “Quando algo começa difícil... termina em bênçãos”.  
Ribamar Diniz, sua esposa Cícera Diniz e seus filhos Lohan e Landon acabam de voltar de Cochabamba (Bolívia), onde ele concluiu sua preparação ministerial no Seminário Adventista Latino Americano de Teologia. Essa fase serviu como Secretário do Cetro White (2010-2012); vice-presidente da Sociedade Estudantil Honorífica de Investigação Teológica e editor da Revista Doxa. 
 Referências:





[1]Vendemos (com Miguel Gomes) 150 livros Conheça Nossa História em São Paulo. Trabalhei com o material da CASA e ACES em: Sorriso e Vera (Mato Grosso); Belém e Ananindeua (Pará); Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha (Ceará); Porto Velho (Rondônia); Nova Andradina, Taquarussú (Mato Grosso do Sul); Manta, Montecristi e Guayaquil (Equador); Campo Grande, São Gabriel do Oeste, Sidrolândia e Rio Verde. Com o material da SCB em Ladário e Corumbá (MS) e Brasília. E com livros do SALT-Bolívia e do Centro White em Arica (Chile) e Cochabamba (Bolívia). Atuei com os setores eclesiástico (igrejas adventistas e evangélicas), empresarial (palestras em empresas), educacional (escolas adventistas, particulares e universidades) e médico (hospitais). Meus colegas de prospecto foram Josué Moraes, Ancelmo Luna (ancião de Juazeiro do Norte-CE), Gleisson Henrique, Raimundo Nunes, Alberto Amador e Josimar Souza. Geralmente vendia uma bolsa quando trabalhava sozinho e duas quando tinha companheiros.    
[2]L. James Gibson, Origens: Lição da Escola Sabatina Adultos-Professor, Janeiro-Março de 2013 (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2013).
[3]Verhttp://benditaesperanca.blogspot.com/2013/02/colportores-criacionistas.html (Consultado: 03 de junho, 2013).
[4]Ver Henrianne Barbosa, Eunice Michiles, a primeira senadora do Brasil (RR São Paulo: Artur Nogueira, Artur Nogueira, Donnelley Moore, 2006). 
[5]Comentário do Pr. Daniel Pairo em uma classe no primeiro semestre de 2013, na Universidade Adventista da Bolívia.
[6]Segundo Alberto Timm, o termo “seita” geralmente é um rótulo apologético e pejorativo, usado por líderes religiosos como um mecanismo de autodefesa, destinado a inibir as pessoas a relacionar-se com os supostos hereges. Apesar dessa atitude preconceituosa, destacados eruditos evangélicos e algumas igrejas protestantes reconhecem a Igreja Adventista do Sétimo Dia como uma denominação genuinamente cristã. “Adventismo, história e crenças”, Revista Adventista, junho de 2002, pp. 8-11.  
[7]Mais informações em www.reavivamentoereforma.com.

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