Essa é a quinta
de uma série de reflexões sobre os melhores momentos vividos por Ribamar Diniz
e família durante sua preparação para o ministério pastoral, na Universidade
Adventista da Bolívia.
Com
meus colegas de curso aprendemos a respeitar todas as culturas, e com meus
professores aprendi lições que nortearam meu futuro. Mas fora da faculdade, em
outra escola também recebi orientações inesquecíveis. Além de ser uma “Escola
de golpes duros”, a colportagem também é uma “universidade para se alcançar
sucesso”.
A Universidade do sucesso
Palestra no Hospital Adventista do Pênfigo |
Com Alberto Amador Mero e Gleisson Henrique de
Freitas, colportei no Equador, que foi parte do domínio inca. Na viagem cruzei
o Peru, antiga sede desse império e escutei histórias de sua cidade perdida, Machu Picchu, e de Cusco, capital do Império Inca e a cidade mais importante dos Andes
por 100 anos. Provei da gastronomia peruana, considerada uma das melhores do
mundo e tomei quanigua, um delicioso
suco quente, quando cruzei a fronteira na cidade de Desaguadero.
No Brasil, enfrentei uma situação difícil ao cobrar
29 coleções numa empresa. A diretora de recursos humanos, com o cheque em mãos,
disse: “Gostei da palestra, mas não desse livro [Tempo de Esperança]. Você está induzindo meus colaboradores a não
trabalhar no sábado.” Orei silenciosamente e logo respondi: “Você sabe que
esse livro foi um presente. Além disso, as pessoas vivem estressadas hoje em
dia porque não tem tempo para Deus, para elas mesmas e para a família;
portanto, esse livro orienta as pessoas a descansar um dia por semana. E
apresenta o dia indicado pela Bíblia.” Ela me olhou, confessando: “Eu sei, sou
batista”, e me entregou o cheque.
Em outra ocasião, quando já não sabíamos o que
fazer, Deus nos guiou ao concílio de pastores da Associação Sul-Matogrossense e
ao Hospital Adventista do Pênfigo (em Campo Grande), onde vendemos livros para
pagar o semestre.
Outro acontecimento espetacular foi quando, em três
minutos, conseguimos vender (Josimar Souza e eu) quatro caixas de livros,
totalizando 6.000 reais. Isso foi em Corumbá, Mato Groso do Sul, em julho de
2012.
Com esse mesmo companheiro, tivemos uma experiência
singular na capital brasileira, considerada uma das cidades mais organizadas do
mundo. Conseguimos vender 815 livros da Sociedade Criacionista Brasileira, (a
maioria sobre criacionismo) para fortalecer o estudo da lição da Escola
Sabatina sobre as origens[2]
e a ênfase que a igreja deu ultimamente sobre o criacionismo bíblico. Parte
desses livros foi vendida no concílio de pastores da União Centro Oeste
Brasileira, quando, graças ao apoio da União e de seus campos, distribuímos
cerca de 300 livros.[3] Em
Brasília também vendemos uma caixa de livros a primeira senadora da história do
Brasil[4],
na última oferta da campanha.
A primeira campanha, em julho de 2008, foi a mais
desafiante. Fomos a Sorriso, uma rica cidade do Mato Grosso, considerada a
“maior produtora de soja do mundo”. Ali constatamos que o que é impossível para os homens, é possível
para Deus (Lucas 18:27).
No
final da campanha, vários colegas não tinham dinheiro para retornar a
Universidade. Alguns perderam o semestre. Eu
tinha somente 800 reais e um grande desafio: conseguir em três dias o que não
havíamos conseguido em um mês. Com meu companheiro, Josué Moraes, seguimos
trabalhando, confiando em um milagre. Cada dia, ele dizia: “Vamos entrar no
livro das Historias de Colportor.”
Deus
fez um milagre em três dias. Cada venda foi uma intervenção direta do céu. Numa
quarta à noite, chegamos à Igreja Adventista Central no final do culto e
vendemos quatro coleções da Bíblia Ilustrada para a Família (6 volumes). De ali para frente, as vendas aumentaram de forma
espetacular.
No sábado seguinte fomos à cidade de Vera, e
vendemos outras quatro coleções, além de outros livros. Ali, um irmão que estava afastado da igreja, nos doou 1.500,00 reais.
Pouco depois visitamos uma missionária pentecostal
que não podia comprar a coleção, pois seu esposo estava
preso. Quando apresentamos um volume, ela afirmou que havia visto na televisão
justamente a parte da historia que eu estava mostrando. Ela sentiu que Deus a
guiava a adquirir pelo menos um volume. Josué apresentou uma palestra em sua
igreja com umas seis pessoas presentes. Por incrível que pareça, ali vendemos
uns 700,00 reais. No final dos tres últimos dias de campanha, conseguimos
ganhar 3.000,00 reais, cada um. Voltamos a UAB, convencidos que Deus continua
fazendo o impossível.
Assalto
na Igreja
Passamos
por situações difíceis e inusitadas em cada campanha. Em Belém do Pará, por
exemplo, na primeira igreja evangélica que conseguimos agendar enfrentamos uma
situação de extremo perigo.
Essa
igreja estava localizada no bairro Curusambá, um dos mais perigosos de Belém.
Tivemos muita dificuldade para encontrar o local. Depois da apresentação do
Josué, usando apenas o computador, começamos a oferecer os livros. No momento
em que uma irmã ia assinar o pedido de uma coleção, entraram na igreja dois
ladrões, que, com uma arma em punho, tomaram duas caixas de som do pastor, que
estava a poucos metros de nós.
Os
ladrões saíram correndo pela rua. Todos ficaram nervosos. Enquanto os dois
pastores saíram correndo, pedi aos irmãos que entrassem na igreja e fechassem o
portão. Quando ouvimos disparos, as irmãs gritaram: “misericórdia”. Entretanto,
logo os pastores voltaram. Um deles trazia uma caixa de som nas costas. As
irmãs então gritaram “glória a Deus, pastor”. E ele respondeu: “Eu cheio da
unção ia deixar o diabo levar a caixa de som?” Saímos daquele lugar no carro de
um membro da igreja, preocupados pela situação, mas confiantes que Deus tinha
um plano.
Apesar
dessa tristeza inicial, no Pará tivemos muitas alegrias. Vendemos muitos
livros, provamos vários pratos típicos e conhecemos vários lugares
interessantes.
No meio do mundo
Universidad Cristiana Latinoamericana, Equador |
Lá
as pessoas comem variados pratos feitos com banana. O Equador é o maior
exportador dessa fruta da América do Sul. Na viagem, olhava as imensas
plantações de banana que se perdiam de vista. Outro fato curioso é que na hora
da comida sempre servem suco, especialmente de limão.
Fizemos um trabalho pioneiro
com empresas, abrindo o campo para futuros colportores desse setor. Uma das
melhores experiências aconteceu na Universidade Cristiana Latinoamericana, na
cidade de Montecristi. Amador havia agendado uma palestra. Apresentei com
entusiasmo o tema sobre as quatro chaves do sucesso. Ao finalizar a palestra, a reitora se aproximou de
mim, interrompendo e perguntando o preço do livro Vida de Jesus. Disse-lhe que em
seguida ia explicar o plano. A ideia era vender com desconto em folha. Mas ela
insistiu, querendo saber o preço. Eu pensei que ia perder a venda! Mas ela
explicou-me que queria comprar para todos! Além desses materiais, vendemos mais alguns
exemplares do livro Cuerpo Sano [Corpo Saudável], uma verdadeira enciclopédia
do corpo humano.
Apesar dessa palestra bem
sucedida, nessa cidade e onde estávamos hospedados, não conseguimos agendar
mais nenhuma empresa. Já estávamos há vários dias hospedados na casa do avô de
Amador, um capitão de navio aposentado. Esse lobo do mar havia cruzado as
fronteiras oceânicas conhecendo vários países. Disfrutamos da hospitalidade dos
vizinhos, tios de Amador. Eles eram pescadores e todos os dias uma sobrinha
vinha convidar-nos para tomar o desjejum, almoçar e jantar. A base de todas as
refeições era peixe. Cada dia havia um prato delicioso e diferente. Ali
aprendemos a comer seviche, peixe
cozido apenas no suco de limão.
Apesar dessa linda experiência
na cidade de Manta, os dias iam passando. Nossas economias também se acabavam.
Oramos e decidimos viajar umas cinco horas, rumo a Guayaquil, cidade principal
do país, com mais de 2 milhões de habitantes. Antes de ir colportar na cidade,
havíamos visitado uma de suas igrejas (La puntilla), onde um jovem brasileiro
estava trabalhando como pastor auxiliar.
Nessa viagem provamos
deliciosos doces, vendidos nas estradas e um bolo de banana sem igual. Os doces
são variados e vem em um potinho de plástico. Quando penso naqueles doces,
ainda sinto na boca o sabor.
Junto a la Iglesia de La
Puntilla organizamos um programa especial para a Urbanização Entre Rios, numa
zona rica da cidade. À noite, compareceu um bom número de pessoas. Amador e eu
apresentamos duas palestras sobre motivação e saúde. O público gostou. A
oportunidade abriu espaço para novos contatos e programas naquele lugar. Nessa
igreja, buscamos os irmãos que eram empresários. Três deles abriram as portas
de suas empresas, pagando inclusive 50% do valor dos livros. Outros indicaram
empresários amigos. Uma das irmãs, Lucy Icasa, comprou todos os livros para
seus funcionários.
Apesar dessas bênçãos, no final
do trabalho surgiu uma situação difícil. Tudo aconteceu no centro da cidade de
Guayaquil. Gleisson e eu entramos num hotel para apresentar nossa proposta,
enquanto Amador estacionou o carro. Depois de sair do hotel, nos dirigimos ao
local combinado. De longe, avistei Amador, com o rosto coberto de sangue.
Pensei que ele havia sofrido um acidente grave. Mas, na verdade, foi um
desentendimento com outro motorista. Ele queria passar na rua e ofendeu a
Amador. Partiu pra cima dele, golpeando seu rosto. A polícia chegou. Foram
momentos difíceis. Enquanto eu limpava o rosto de Amador, chamamos seu irmão
que compareceu ao local, levando-nos para um lugar seguro. Amador perdoou o
agressor.
Alguns dias depois esse clima
de tristeza foi mudado ao passear por uma parte da cidade de Salinas, onde nos
banhamos pela primeira vez nas águas do oceano Pacífico.
Durante meus estudos distribuí
literatura cristã e preguei em dezenas de igrejas. Uma das melhores (e mais
desafiadoras) experiências aconteceu no Chile, em julho de 2013. Nunca imaginei
que o último período de férias seria tão difícil e abençoado ao mesmo tempo.
Depois do Brasil, o Chile é o
país mais rico da América do Sul, sendo um dos mais desenvolvidos das três
Américas. Alguns creem que será o primeiro país sul americano a vencer o
subdesenvolvimento[5].
Além disso, está situado no ponto mais extremo de nosso continente, sendo
considerado o “país onde o mundo acaba”. Várias circunstâncias fizeram-me
decidir conhecer esse lugar.
Em primeiro lugar queria ter
contato com a Igreja Adventista do Sétimo Dia no Chile. Além disso, ouvi
histórias de pastores brasileiros que trabalharam na região. Entre eles Felipe
Santos (que se graduou na Universidade Adventista do Chile e hoje é pastor no
Mato Grosso); Jeú Caetano, natural de meu estado (Ceará) que foi departamental
de mordomia na União Chilena; Stanley Arco (presidente da União Boliviana);
João Vicente (gerente de vendas da Casa Publicadora Brasileira) e Adílson
Morais (departamental associado de publicações da Divisão Sul Americana).
O maior motivo, porém, foi
entender que Deus teria uma obra especial para eu realizar nesse lugar. Isso se
tornou mais evidente quando orei a Deus sobre a viagem, buscando Sua vontade a
respeito. Certo sábado quando estava sentado num banco na última fila da Igreja
Central de Cochabamba, sentou-se ao meu lado uma jovem de pele branca e alta.
Eu disse-lhe: “Você não é daqui.” Ela respondeu: “sou chilena.” Aí entendi
tudo. Quando expus meu desejo de conhecer seu país, Nayat garantiu que sua mãe
(Carina Guerra) poderia apoiar-me nesse sentido. Com seu número de celular na
agenda; 500 livros na bagagem e muita expectativa embarquei rumo a uma
aventura.
No Terminal Rodoviário de
Cochabamba, troquei moeda local (peso
boliviano) para peso chileno, levando pouco dinheiro na carteira. A viagem de
Cochabamba até Arica, no Norte do Chile levaria 12 horas. No caminho, mastiguei
chiclete para desobstruir os ouvidos, devido à altitude de Oruro, estado
boliviano limítrofe com Chile. Outros passageiros preferiam tomar comprimidos
para a altura. A paisagem durante o trajeto era imponente e variada,
caracterizada por montanhas, plantações diversas, rebanhos de ovelhas, lhamas e
pequenos povoados.
Quando chegamos à fronteira,
vislumbrei duas montanhas cobertas de neve. O ônibus parou na Aduana, onde a bagagem seria revistada.
Embora os agentes fossem muito educados, esclareceram que, a despeito de ser o
autor, tinha que pagar o imposto dos livros. Depois de contarmos os exemplares,
uma agente conseguiu um bom desconto, porque confessou que era amante da leitura.
O valor excedia os 20 mil pesos chilenos que eu tinha. Nesse momento, pedi 2
mil pesos emprestado ao motorista, que estava bastante aborrecido pela demora.
Completei o valor trocando um pouquinho de dinheiro que ainda tinha.
Imediatamente ao entrarmos no
ônibus, o motorista disse que eu teria que pagar o excesso de bagagem. Apesar
de dizer que, ainda no embarque, havia aclarado a mercadoria que levava, ele
parecia irredutível. Minha preocupação foi tanta que pensei que, por causa
desse problema, ele poderia deixar-me na estrada. Como fiquei sem nenhum
centavo no bolso, comecei a orar silenciosamente e pensar numa estratégia para
conseguir algum dinheiro.
Numa parada, já próximo de
Arica, conversei com uma jovem, que ao invés de emprestar-me, me deu 2 mil
pesos “de todo o coração”. Contei minha situação ao passageiro do lado. Ele
emprestou-me somente mil pesos. Quando chegamos a Arica, umas 9 horas da noite,
eu não queria encarar o motorista. Felizmente ele estava dormindo. Por isso,
deixei o valor que devia com o novo motorista, quem de igual forma insistiu que
eu pagasse pelo excesso de bagagem. Quando lhe expliquei que já não tinha
dinheiro, ele deixou-me em paz. Desci em frente ao Terminal Internacional de
Arica, um pouco mais aliviado. Minha tranquilidade durou pouco.
Quando liguei para a irmã
Carina Guerra (usando um telefone público com moedas), ela disse que estava
muito longe e me deu o telefone do pastor distrital. Quando consegui falar com
o pastor Yerri Rozado, ele disse que estava na cidade de Iquique, há 5 horas
dali. A preocupação aumentava e minhas moedas acabavam, enquanto tentava
explicar minha situação ao pastor e a irmã, em várias tentativas. Quando já não
consegui falar com eles, pedi ajuda a uma jovem de um quiosque, que usou seu
celular para chamá-los.
Em determinado momento, pensei
que ficaria sozinho ali, tendo que dormir na rua. Também temia um assalto, pois
me haviam advertido sobre esse perigo. Nesse momento, angustiado, escrevi um
pedido simples, na agenda: “Oh, Deus, ajuda-me”.
Depois dessa oração, consegui
falar com a irmã Carina, que me perguntou com que roupa estava e veio
buscar-me. Já eram mais de 10 horas da noite. Ela levou-me a Pensão de Donde
Patty Carlos, onde fiquei hospedado os primeiros 10 dias. Também me deu uma pequena
provisão para o começo do trabalho. Depois de agradecer a Deus e dormir aquela
noite, decidi começar o trabalho no dia seguinte, quando vendi os primeiros
livros. As duas primeiras semanas foram muito difíceis...
Quando viajei ao Chile, pensei
que as coisas seriam mais fáceis. Se você já distribuiu literatura adventista,
sabe que esse ministério é repleto de desafios, às vezes intransponíveis. Em
minhas campanhas anteriores como estudante, havia enfrentado grandes
obstáculos. Geralmente os resultados apareciam no final do trabalho (geralmente
nas últimas semanas ou dias). Mas, no Chile, pensei que as coisas seriam
diferentes. Porque eu pensava assim?
Em primeiro lugar, eu iria
distribuir um livro de minha autoria. Isso poderia facilitar as vendas, já que
seu preço seria bem inferior aos livros tradicionais de Colportagem. Em segundo
lugar, eu já era um colportor experiente, com dez férias trabalhadas. Essa
experiência impediria que eu cometesse erros. Em terceiro lugar, meu projeto
era muito bom, e a Igreja certamente iria abraçá-lo. Eu realmente estava
confiante. Afinal de contas, seria minha última campanha. Não haveria porque
surgirem problemas.
Além das dificuldades na
viagem, senti nos primeiros dias um misto de alegria e preocupação. Alegria
porque consegui agendar algumas igrejas evangélicas. Preocupação porque outras
igrejas não aceitaram a proposta, por puro preconceito. Uma pastora e um pastor
evangélico disseram-me que a Igreja Adventista “era uma seita.”[6] Na
minha Igreja, pensava, as coisas seriam diferentes. Mas descobri que a maioria
delas não realizava cultos nos domingos à noite. E o número de participantes
nas quartas-feiras à noite era bem reduzido. Isso me fez pensar que não seria
fácil mover o povo adventista de Arica. Outro problema apareceu, de forma
involuntária.
A Igreja Adventista do Sétimo
Dia no Chile, a semelhança do país, está bem organizada. Quando alguém pretende
trabalhar junto às igrejas, precisa solicitar uma autorização da União e do
Campo local. Por vários motivos, a autorização que solicitei não chegou a tempo
e os pastores locais, com razão, não puderam permitir-me visitar suas igrejas e
membros, nas primeiras semanas.
Consegui vender os primeiros
livros no Colégio Adventista de Arica, graças ao apoio do capelão, Juan Marin e
do diretor, Prof. Marcelo Funes. As vendas nas igrejas evangélicas não foram
animadoras. Somando o que havia vendido e olhando as caixas de livros, pensava
se não havia levado muito material. Raciocinava se não seria melhor haver
levado apenas 300 exemplares. Calculava que precisaria vender 15 exemplares por
dia, durante o mês, mas estava vendendo poucos durante a semana. Além do
desânimo das vendas, tive problemas de saúde.
No primeiro sábado em Arica,
senti um mal estar generalizado. Estava tão debilitado, que fui até o hospital
municipal, onde tomei soro e fui medicado. Aquele sábado não sentei em um banco
para assistir ao culto, pois passei parte da manhã no leito de um hospital. Já
no final das atividades, precisei regressar ao estabelecimento médico por causa
de uma inflamação nas amigdalas. Esses problemas de saúde quitaram parte do
pouco dinheiro que tinha e abalaram fortemente minhas emoções.
Além dos problemas de saúde, me
furtaram uma bicicleta, emprestada por um irmão. Tudo aconteceu numa lanhouse, quando estava conversando com
minha esposa pelo facebook. Deixei a bicicleta sem cadeado. Apesar disso,
olhava pelas brechas da cabine, vendo a bicicleta. Num piscar de olhos, a
bicicleta sumiu. Saí correndo da cabine correndo e olhando por todos os lados,
mas não vi nada. Perguntei a algumas pessoas, explicando o que havia
acontecido, mas ninguém viu nada. Chamamos os Carabineiros (Polícia Chilena)
que fizeram a ocorrência no local, mas disseram ser difícil encontrar a
bicicleta.
Retornei ao lugar onde estava
hospedado, sem muita preocupação. Sabia que Deus tinha um plano em tudo aquilo.
Quando a atendente da lanhouse soube,
ficou um pouco triste. Sabendo que ela era adventista, mas não estava
assistindo a Igreja, disse-lhe tranquilamente: “Sabe, irmã, foi bom ter
acontecido isso porque é mais uma prova que esse mundo não é para nós. Um dia
vamos viver num lugar melhor”. Espero que essas palavras tenham motivado aquela
irmã a regressar para a Igreja.
Cheguei a pensar que, se os
problemas continuassem, seria prudente trasladar-me a outra cidade. A minha
maior alegria naqueles dias foi acompanhar a vitória do Brasil (3x0) frente à
Espanha, pela Copa das Confederações. Além desses problemas, algumas pessoas me
desanimaram motivando-me a viajar logo a outro lugar.
Alguns disseram que seria
melhor ir às cidades mineiras (Iquique, Antofagasta e Calama), ou a Santiago (a
capital do país). Outros disseram que as pessoas de Arica não compram, porque
não tem muito dinheiro disponível e tem outra cultura. Isso me confundia. Mas a
todos esses críticos de plantão, respondia respeitosamente que, como havia
orado por Arica, permaneceria ali.
Minha oração naqueles dias era:
Que o Senhor me ajude. Ele me ajudou
de forma espetacular...
A frase do pastor Yerri Rozado
“quando algo começa difícil...”, ainda soava em minha mente quando terminei de
vender os 500 livros. Esse foi meu recorde pessoal em um período de férias,
durante minhas atividades como colportor estudante. Tudo começou durante meus
diálogos com Deus, na pensão de Dona Patty.
Durante as duas primeiras
semanas eu acordava e orava a Deus. Lia um capítulo da Bíblia, seguindo o
projeto Reavivados por Sua Palavra[7] e
um capítulo do livro O Desejado de todas
as nações. Deus aumentou minha fé nesses encontros íntimos com Ele. Quando
voltava do campo de trabalho, me ajoelhava e clamava a Deus por um milagre.
Esses momentos de comunhão foram fundamentais para meu sucesso. Além de
adquirir força espiritual, eu perguntei muitas vezes ao Senhor qual seria a
melhor estratégia a utilizar. E ele respondeu-me.
Calculando quanto tempo restava
e quantos livros havia, calculei que, se vendesse livro a livro, precisaria de
um ano para terminar. Então, orei a Deus para mover os irmãos das igrejas
adventistas e evangélicas a me comprarem 300 livros. As duas caixas restantes,
pensei, teria que vender a duas pessoas.
Enquanto vendia kits com 2, 5
ou 10 unidades orava para encontrar os dois clientes para as compras maiores.
Deus respondeu minhas orações e da minha esposa, que orava em Cochabamba, junto
com suas amigas. Elas organizam, nas férias, uma semana de oração para
interceder pelos esposos.
O primeiro cliente foi um
empresário adventista. Como ele morava numa região atendida por uma colportora,
pedi-lhe para acompanhar-me nesse dia. Quando chegamos a sua casa, não estava.
Depois de falar com uma funcionária da casa, decidimos
voltar depois. Quando estávamos saindo, ele chegou. Ele gentilmente nos convidou
a entrar, servindo-nos suco com nozes, uvas passas, amendoim e outras
guloseimas. Foi muito educado e hospitaleiro.
Diante dessa recepção, minha
vontade era apresentar-lhe logo minha proposta. Mas sentia que primeiro, ele
necessitava de uma mensagem espiritual. Embora meu objetivo fosse vender, sabia que o mais importante era pregar. Orei silenciosamente ao Senhor,
perguntando-lhe que texto ler.
Abri a Palavra de Deus em Jó,
lendo os primeiros versículos. Comentei, entre outras coisas, que esse patriarca
era um homem próspero. Mas a Bíblia primeiro fala de sua consagração e lealdade
ao Senhor. O texto sagrado também declara seu compromisso como sacerdote do
lar. Depois de tudo isso se menciona a prosperidade de Jó. Argumentei com
entusiasmo que, para ser verdadeiramente exitosos devemos colocar a Deus em
primeiro lugar. Para que o Senhor abençoe nossa família devemos ser
missionários no lar. Preguei para aquele auditório
de uma só pessoa por quase meia hora. Quando terminei, fiz uma pergunta:
“Irmão, como está a vida espiritual?”
Ele foi sincero, dizendo que
passava por um período de frieza espiritual, por vários fatores. Motivei-lhe a
renovar sua consagração a Deus e ser uma influencia positiva; um líder
espiritual junto a sua família e empregados. Depois oramos. Senti que minha
missão estava cumprida.
De maneira breve apresentei o projeto Quando Deus me chamou e a benção
que seria distribuir 100 livros aos jovens da Igreja. Ele, de forma natural,
disse que compraria uma caixa. Percebi que, quando estamos dispostos a ajudar
espiritualmente os demais, Deus se encarrega de nossas necessidades. Saímos
jubilosos do lugar. Faltava vender a outra caixa.
Um dos kits com 10 unidades
havia sido vendido a Sebastian Tenório, líder dos colportores efetivos na cidade.
Ele convidou-me a fazer uma palestra para sua equipe. Pensei que poderia, na
ocasião, vender alguns livros. Mas, quando uma das colportoras disse-me que
Sebastian já havia oferecido a elas, decepcionei-me pensando que não venderia
nada.
No dia marcado, cheguei e fiz
duas palestras. Em uma contei minha experiência como colportor efetivo e
estudante, durante 13 anos. Depois, dissertei sobre um tema motivacional. No
final, fiquei em dúvida se apresentaria ou não os livros. Mas, decidi tentar.
Perguntei-lhes: “algum de vocês ainda não tem esse livro?”. Algumas colportoras
levantaram a mão. Quando segui falando, uma delas perguntou quanto custava uma
caixa. Disse-lhe que, como ela revenderia o material, faria um desconto
especial. Ela entusiasmou-se e comprou-me a caixa. Quase todas as outras
compraram duas unidades e uma delas 10 exemplares.
Vender livros a vendedores de
livros não é fácil. Sinceramente, nunca pensei que venderia ali a caixa que
faltava. Glorifiquei a Deus mais uma vez, sabendo que, suas bênçãos podem vir
de maneira e nos lugares mais inusitados. Como um grande amigo, Juan Marin,
disse-me: “Quando fazemos o nosso melhor, devemos deixar os resultados nas mãos
de Deus.”
Realmente o pastor Rozado tinha
razão. No final da campanha, pude completar sua frase: “Quando algo começa
difícil... termina em bênçãos”.
Ribamar
Diniz, sua esposa Cícera Diniz e seus filhos Lohan e Landon acabam de voltar de
Cochabamba (Bolívia), onde ele concluiu sua preparação ministerial no Seminário
Adventista Latino Americano de Teologia. Essa fase serviu como Secretário do
Cetro White (2010-2012); vice-presidente da Sociedade Estudantil Honorífica de
Investigação Teológica e editor da Revista Doxa.
Referências:
[1]Vendemos
(com Miguel Gomes) 150 livros Conheça
Nossa História em São
Paulo. Trabalhei com o material da CASA e ACES em: Sorriso e Vera (Mato
Grosso); Belém e Ananindeua (Pará); Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha
(Ceará); Porto Velho (Rondônia); Nova Andradina, Taquarussú (Mato Grosso do
Sul); Manta, Montecristi e Guayaquil (Equador); Campo Grande, São Gabriel do
Oeste, Sidrolândia e Rio Verde. Com o material da SCB em Ladário e Corumbá (MS)
e Brasília. E com livros do SALT-Bolívia e do Centro White em Arica (Chile) e
Cochabamba (Bolívia). Atuei com os setores eclesiástico (igrejas adventistas e
evangélicas), empresarial (palestras em empresas), educacional (escolas
adventistas, particulares e universidades) e médico (hospitais). Meus colegas
de prospecto foram Josué Moraes, Ancelmo Luna (ancião de Juazeiro do Norte-CE),
Gleisson Henrique, Raimundo Nunes, Alberto Amador e Josimar Souza. Geralmente
vendia uma bolsa quando trabalhava sozinho e duas quando tinha
companheiros.
[2]L. James Gibson, Origens: Lição da Escola Sabatina Adultos-Professor, Janeiro-Março de 2013 (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2013).
[3]Verhttp://benditaesperanca.blogspot.com/2013/02/colportores-criacionistas.html (Consultado: 03 de junho, 2013).
[4]Ver Henrianne Barbosa, Eunice Michiles, a primeira senadora do Brasil (RR São Paulo: Artur Nogueira, Artur Nogueira, Donnelley Moore, 2006).
[5]Comentário do Pr. Daniel Pairo em uma classe no primeiro semestre de 2013, na Universidade Adventista da Bolívia.
[6]Segundo Alberto Timm, o termo “seita” geralmente é um rótulo apologético e pejorativo, usado por líderes religiosos como um mecanismo de autodefesa, destinado a inibir as pessoas a relacionar-se com os supostos hereges. Apesar dessa atitude preconceituosa, destacados eruditos evangélicos e algumas igrejas protestantes reconhecem a Igreja Adventista do Sétimo Dia como uma denominação genuinamente cristã. “Adventismo, história e crenças”, Revista Adventista, junho de 2002, pp. 8-11.
[7]Mais informações em www.reavivamentoereforma.com.
[2]L. James Gibson, Origens: Lição da Escola Sabatina Adultos-Professor, Janeiro-Março de 2013 (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2013).
[3]Verhttp://benditaesperanca.blogspot.com/2013/02/colportores-criacionistas.html (Consultado: 03 de junho, 2013).
[4]Ver Henrianne Barbosa, Eunice Michiles, a primeira senadora do Brasil (RR São Paulo: Artur Nogueira, Artur Nogueira, Donnelley Moore, 2006).
[5]Comentário do Pr. Daniel Pairo em uma classe no primeiro semestre de 2013, na Universidade Adventista da Bolívia.
[6]Segundo Alberto Timm, o termo “seita” geralmente é um rótulo apologético e pejorativo, usado por líderes religiosos como um mecanismo de autodefesa, destinado a inibir as pessoas a relacionar-se com os supostos hereges. Apesar dessa atitude preconceituosa, destacados eruditos evangélicos e algumas igrejas protestantes reconhecem a Igreja Adventista do Sétimo Dia como uma denominação genuinamente cristã. “Adventismo, história e crenças”, Revista Adventista, junho de 2002, pp. 8-11.
[7]Mais informações em www.reavivamentoereforma.com.
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