Estimados
amigos estudantes de teologia da Universidade Adventista da Bolívia, promoção
2012: A transcendência do momento que estão vivendo motivou-me a escrever as
seguintes reflexões sobre o ministério que estão prestes a iniciar. São
palavras vindas do coração. Conhecendo-os razoavelmente bem, creio poder falar
com conhecimento de causa. Como companheiro de classes e de jornada, imagino poder
escrever com empatia e sensibilidade. Ao conviver convosco nos últimos cinco
anos posso parabenizá-los sem demagogia, aconselhá-los como um amigo e
desafiá-los como irmão.
Quando
cheguei à universidade (2008), percebi que esse grupo possuía características
que o tornava único em muitas gerações. Era um grupo heterogêneo, com
personalidades, culturas e países distintos. Entretanto isso não impediu a
formação de amizades profícuas. Creio que o quarteto
fantástico (Arturo Betancourt, Dario Benitez, Nailson Diniz e Roly Chamby),
ilustra as inúmeras amizades que surgiram durante esse quinquênio. A maioria
dos alunos, quando chegaram, eram apenas colegas de classe; hoje são amigos para
toda a vida.
Segundo
o pastor Elder Roger, presidente da União Centro Oeste Brasileira, no
ministério adventista os melhores amigos são aqueles que formamos no seminário.
Na solitária vida do pastor, “o que mais vale são os laços do colégio.”[1]
Embora conquistem amigos por onde passarem, os amigos de classe tem um significado
especial. Eles sentiram o que vocês sentiram, sofreram junto com vocês.
Conhecem seus pontos fortes e suas fraquezas. Por isso, orarão por vocês como
nenhum outro poderia fazê-lo. Em um mundo fragmentado pelo ódio e pelas
discórdias, conservem seus antigos amigos.
Porque,
em meio a tantas dificuldades vocês não desistiram? Sem dúvida alguma foi o
senso do chamado divino que os fez perseverar, apesar dos obstáculos quase intransponíveis.
Foi o chamado que os guiou pelo vale da
sombra da morte; que os fez escalar as montanhas de problemas que surgiram.
Valorizem seu chamado, pois, como afirmou categoricamente Mac Brunson,
Não
há substituto para o claro senso de chamado no ministério. Se você é pastor e
não tem um inquestionável e claro senso do chamado de Deus, embora nem sempre
possa explicar isso, então você deve fazer outra coisa imediatamente. Do
contrário, o prejuízo que pode causar às pessoas e congregações, à sua família
e ao reino é indescritível. Haverá momentos em que a única coisa a sustentar
suas mãos no arado será a convicção do chamado.[2]
A
partir de agora, vocês serão chamados de pastores.
Receberão vários outros nomes, sobrenomes ou apelidos. “Líder” e “chefe” são
dois exemplos. Alguns receberão em breve o sobrenome de “departamentais”. “Professores”,
“teólogos” e “administradores”, serão outros apelidos. “Doutor” será um título de
vários. Porém, “presidente”, será o codinome de poucos. Em meio aos distintos
“nomes”, lembrem que o único verdadeiro é o primeiro da lista. Nunca esqueçam
que vocês são “pastores”. Nas muitas funções que ocuparão, o mais importante
não é o cargo ou status, mas o rebanho que apascentamos.
Assumir
uma responsabilidade administrativa na igreja, como disse um amigo meu, “é
acidente de percurso”. Jamais busquem posições na causa de Deus. A posição mais
confortável na obra é a de servo, a mesma assumida por nosso Senhor. Pelo
contrário, estejam dispostos a servir em qualquer lugar ou circunstancia. Dizem
que o trabalho dignifica o homem. Creio que o serviço enobrece o pastor.
Alguém
disse que quando um pastor não é aceito pelos membros da igreja, eles sequer o
chamam de pastor. Quando o grau de aceitação se resume a tolerância o denominam
de “o pastor”. Mas, quando eles o amam o chamarão de “meu pastor”. Embora não
dependa somente de nós, podemos fazer nossa parte em conquistar o coração da
igreja com três coisas indispensáveis: presença, amor e compaixão (Veja Mateus
14:14-21).
No
ministério há coisas para fazer e coisas para evitar. Aquele que recebe a unção
deve evitar a presunção. Se o serviço enobrece seu trabalho, lembre que a
arrogância o estorva. O orgulho é um pecado que serve de esteira para quase
todos os outros defeitos. A humildade, porém, é uma ponte que transpõe todo
obstáculo. Para ser humildes e mansos de coração (Mateus 11:29), precisamos
liderar igrejas difíceis e pessoas orgulhosas. Uma igreja problemática de hoje ajuda
tanto a seu pastor, como a antiga igreja de Corinto ajudou Paulo, o maior
missionário da história. (Veja 2 Coríntios 6:11-7:4; 12:11-16). “Deus tem usado
muitas igrejas difíceis na trajetória de alguns pastores, para ensiná-los como
ser crucificado com Cristo e permanecer algum tempo na cruz, como Ele o fez.”[3]
Além
de uma pesada cruz, o pastor também passa por um Getsêmani:
...Quer
os membros da igreja compreendam ou não, todo pastor luta com pecado e as
tentações. Também carregamos os fardos da nossa vocação. Cada um de nós
enfrenta seu próprio Getsêmani – aqueles momentos de angústia intensa, em que desejamos
que Deus alivie, ou remova definitivamente, os desafios e provas.[4]
O
que fazer quando experimentamos toda a extensão das emoções humanas, da alegria
à tristeza profunda[5];
do sentimento de valorização a sensação de menosprezo; do aplauso da multidão à
solidão do abandono? Nessas horas difíceis, devemos agir como Jesus (Veja Lucas
26:39-43). Orar a nosso Pai Celestial que está atento ao sofrimento de seus pastores,
e os responde com conforto e aprovação. Quando se sentir lá embaixo, lembre-se
que a ajuda vem de cima. Levante o rosto e clame a Deus. Você não será
desapontado.
Olhando
para frente, sei que uma pergunta os perturba. O que fazer primeiro? Das
inúmeras atividades relevantes, cinco são cruciais no ministério:
Pregar
– Em uma visita a nosso seminário, o pastor Otimar Gonçalves, presidente da
Missão Alagoana, afirmou que “a maior arma do pastor é o púlpito.” Pregar a
palavra de Deus “é um dos mais sagrados deveres do pastor”, desde os tempos da
Igreja Primitiva (Atos 6:4). Não deveríamos enfatizar nenhuma outra coisa a
despeito da pregação bíblica[6]. André
Blackwood escreveu que a pregação,
deveria
ser considerada a mais nobre tarefa que existe na Terra. Aquele que é chamado
por Deus para proclamar o evangelho deveria destacar-se como o homem mais
importante na sua comunidade, e tudo quanto fizesse para Cristo e para a igreja
deveria manifestar-se na sua pregação. No púlpito, ele deverá fazer muito do
seu melhor trabalho para o tempo e para a eternidade. Em geral, devemos
empregar nossos superlativos parcimoniosamente, mas não quando falamos da obra
do pregador.[7]
Liderar
–
Sem liderança não há transformação na vida da igreja. O pastor, em minha
concepção, deveria liderar mais e administrar menos. Embora essa equação penda
mais para o lado da administração de recursos e processos, o ministro, seguindo
as orientações de Ellen White, deveria liderar pessoas e atividades. Como disse
John Maxuell “liderança é influência, nada mais, nada menos”. Existem poucos
profissionais que, além do ministro consagrado, tenham tantas oportunidades de
influenciar positivamente as pessoas. Seja um caçador de talentos. Prepare
outros líderes para serem melhores que você. Desenvolva pessoas. Dê
oportunidade a elas para crescerem. Ensine pelo exemplo.
Evangelizar
– Embora pareça óbvio, o evangelismo precisa ser o
foco pastoral. O ministro do evangelho
existe para isso e foi chamado para isso. Tudo o que faz tem um único
propósito: salvar pessoas para o reino de Deus. O batismo de uma pessoa é a
maior alegria do pastor. Por essa razão, deveria ser sua prioridade.
Pessoalmente faça sua parte evangelizando pessoas e persuadindo os membros a desempenhar
essa nobre tarefa. O pastor precisa abrir novos campos, através do plantio de
igrejas e do estabelecimento de pequenos grupos. Não deveríamos pensar que a
nossa responsabilidade é apenas administrar nosso distrito. Temos um dever para
com a área ou a cidade onde esse distrito está inserido. Toda a área e pessoas
ali presentes são o nosso campo missionário. O pastor adventista de hoje deve ser
como os pioneiros de outrora. Desejar ardentemente conquistar o mundo para Cristo.
Ensinar
– Vivemos em uma sociedade que supervaloriza o aspecto emocional e experimental
da religião, em detrimento dos aspectos cognitivo e normativo. Embora a emoção
tenha o seu lugar na adoração, ela não pode substituir a Palavra Revelada de
Deus. A fé de muitos não se baseia no claro “assim diz o Senhor”, mas no opaco
“assim dizem as minhas emoções”. Segundo a Bíblia, o nosso coração pode nos
enganar (Jeremias 17:9), mas quando estamos alicerçados sobre os ensinos
escriturísticos, permanecemos seguros (Mateus 7:24-27). Para evitar o divórcio
entre a práxis da igreja e a Escritura, o pastor deve ser um maestro do ensino
bíblico. É por isso que ele precisa continuar estudando a Bíblia com esmero.
Deve manter-se atualizado teologicamente, a fim de ensinar suas ovelhas a
alimentar-se do maná do céu.
Visitar
– Porque a visitação pastoral é tão essencial? Porque
no recôndito do lar, o coração se abre como em nenhum outro lugar. Em casa os
irmãos contam seus problemas e tiram suas máscaras. O lar representa o coração.
Aí as pessoas se sentem a vontade para buscar ajuda e clamar por socorro.
Quando o pastor visita o membro em casa, ele o escuta com atenção na igreja.
Quando o pastor ajuda o membro no lar, ele trabalha por outros na rua. Se escrevêssemos
numa lista as atividades mais corriqueiras do trabalho pastoral no século XXI, talvez
atender o celular estaria no topo. Depois talvez viesse dirigir, usar o notebook
ou acessar a internet. Visitar, pasmem, estaria no fim da lista. É preciso
refazer nossa lista de atividades diárias, priorizando as coisas mais
importantes.
Como
cumprir adequadamente esse quinteto pastoral? Talento para isso vocês tem de
sobra. Oportunidades não faltarão. Materiais tão pouco. Mas lembrem de pregar,
evangelizar, liderar, ensinar e visitar respeitando seus limites físicos e
emocionais. “Muitos pastores são vítimas de esgotamento emocional e desgaste
físico, e acabam abreviando sua vida útil na Causa de Deus”.[8] Muitos
fatores são determinantes nesse esgotamento. Esses fatores podem variar de
acordo com a estrutura de cada um e suas condições de trabalho. As soluções
principais, no entanto, são:
1. Buscar
alimento espiritual cada dia.
2. Tomar
tempo para si mesmo e para a família.
3. Procurar
o equilíbrio na alimentação, sono e exercícios físicos.
4. Procurar
fazer parte de um pequeno grupo de oração e apoio espiritual.
5. Buscar
ajuda (amigo ou profissional).[9]
Queridos
amigos, o período de preparação ministerial terminou. Vocês conseguiram. Graças
a Deus e nossos pacientes professores, estão prontos para assumir o ministério.
Daqui para frente, quando surgirem os problemas, olhem para trás. Assim como
Deus deu a vitória no passado, os fará triunfar no futuro. A igreja os espera.
O mundo os necessita. O céu os apoia. O universo os contempla. Êxito!
Ribamar
Diniz
Bacharel em
Teologia, aluno do SALT-Bolívia e editor da Revista Doxa.
Referências:
[1] Durante o concílio de pastores
da Associação Sul-Matogrossense, Campo Grande, 07 de fevereiro de 2012.
[2] Mac Brunson, citado em Revista Ministério, maio-junho de 2008,
33.
[3] Anônimo, citado em Revista Ministério, maio-junho de 2008,
33.
[4] Willie E. Hucks II, “O Getsêmani
do pastor”, Revista Ministério,
maio-junho de 2008, 2.
[5] Ver Idem.
[6] Ibidem, 3.
[7] Idem.
[8] Alberto D. Nery, “Respeite seus
limites”, Ibidem, 23.
[9] Idem.