quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mensagem a meus amigos da Promoção 2012



Estimados amigos estudantes de teologia da Universidade Adventista da Bolívia, promoção 2012: A transcendência do momento que estão vivendo motivou-me a escrever as seguintes reflexões sobre o ministério que estão prestes a iniciar. São palavras vindas do coração. Conhecendo-os razoavelmente bem, creio poder falar com conhecimento de causa. Como companheiro de classes e de jornada, imagino poder escrever com empatia e sensibilidade. Ao conviver convosco nos últimos cinco anos posso parabenizá-los sem demagogia, aconselhá-los como um amigo e desafiá-los como irmão.

Quando cheguei à universidade (2008), percebi que esse grupo possuía características que o tornava único em muitas gerações. Era um grupo heterogêneo, com personalidades, culturas e países distintos. Entretanto isso não impediu a formação de amizades profícuas. Creio que o quarteto fantástico (Arturo Betancourt, Dario Benitez, Nailson Diniz e Roly Chamby), ilustra as inúmeras amizades que surgiram durante esse quinquênio. A maioria dos alunos, quando chegaram, eram apenas colegas de classe; hoje são amigos para toda a vida.

Segundo o pastor Elder Roger, presidente da União Centro Oeste Brasileira, no ministério adventista os melhores amigos são aqueles que formamos no seminário. Na solitária vida do pastor, “o que mais vale são os laços do colégio.”[1] Embora conquistem amigos por onde passarem, os amigos de classe tem um significado especial. Eles sentiram o que vocês sentiram, sofreram junto com vocês. Conhecem seus pontos fortes e suas fraquezas. Por isso, orarão por vocês como nenhum outro poderia fazê-lo. Em um mundo fragmentado pelo ódio e pelas discórdias, conservem seus antigos amigos.

Porque, em meio a tantas dificuldades vocês não desistiram? Sem dúvida alguma foi o senso do chamado divino que os fez perseverar, apesar dos obstáculos quase intransponíveis. Foi o chamado que os guiou pelo vale da sombra da morte; que os fez escalar as montanhas de problemas que surgiram. Valorizem seu chamado, pois, como afirmou categoricamente Mac Brunson,

Não há substituto para o claro senso de chamado no ministério. Se você é pastor e não tem um inquestionável e claro senso do chamado de Deus, embora nem sempre possa explicar isso, então você deve fazer outra coisa imediatamente. Do contrário, o prejuízo que pode causar às pessoas e congregações, à sua família e ao reino é indescritível. Haverá momentos em que a única coisa a sustentar suas mãos no arado será a convicção do chamado.[2]

A partir de agora, vocês serão chamados de pastores. Receberão vários outros nomes, sobrenomes ou apelidos. “Líder” e “chefe” são dois exemplos. Alguns receberão em breve o sobrenome de “departamentais”. “Professores”, “teólogos” e “administradores”, serão outros apelidos. “Doutor” será um título de vários. Porém, “presidente”, será o codinome de poucos. Em meio aos distintos “nomes”, lembrem que o único verdadeiro é o primeiro da lista. Nunca esqueçam que vocês são “pastores”. Nas muitas funções que ocuparão, o mais importante não é o cargo ou status, mas o rebanho que apascentamos.

Assumir uma responsabilidade administrativa na igreja, como disse um amigo meu, “é acidente de percurso”. Jamais busquem posições na causa de Deus. A posição mais confortável na obra é a de servo, a mesma assumida por nosso Senhor. Pelo contrário, estejam dispostos a servir em qualquer lugar ou circunstancia. Dizem que o trabalho dignifica o homem. Creio que o serviço enobrece o pastor.

Alguém disse que quando um pastor não é aceito pelos membros da igreja, eles sequer o chamam de pastor. Quando o grau de aceitação se resume a tolerância o denominam de “o pastor”. Mas, quando eles o amam o chamarão de “meu pastor”. Embora não dependa somente de nós, podemos fazer nossa parte em conquistar o coração da igreja com três coisas indispensáveis: presença, amor e compaixão (Veja Mateus 14:14-21).

No ministério há coisas para fazer e coisas para evitar. Aquele que recebe a unção deve evitar a presunção. Se o serviço enobrece seu trabalho, lembre que a arrogância o estorva. O orgulho é um pecado que serve de esteira para quase todos os outros defeitos. A humildade, porém, é uma ponte que transpõe todo obstáculo. Para ser humildes e mansos de coração (Mateus 11:29), precisamos liderar igrejas difíceis e pessoas orgulhosas. Uma igreja problemática de hoje ajuda tanto a seu pastor, como a antiga igreja de Corinto ajudou Paulo, o maior missionário da história. (Veja 2 Coríntios 6:11-7:4; 12:11-16). “Deus tem usado muitas igrejas difíceis na trajetória de alguns pastores, para ensiná-los como ser crucificado com Cristo e permanecer algum tempo na cruz, como Ele o fez.”[3]

Além de uma pesada cruz, o pastor também passa por um Getsêmani:

...Quer os membros da igreja compreendam ou não, todo pastor luta com pecado e as tentações. Também carregamos os fardos da nossa vocação. Cada um de nós enfrenta seu próprio Getsêmani – aqueles momentos de angústia intensa, em que desejamos que Deus alivie, ou remova definitivamente, os desafios e provas.[4]

O que fazer quando experimentamos toda a extensão das emoções humanas, da alegria à tristeza profunda[5]; do sentimento de valorização a sensação de menosprezo; do aplauso da multidão à solidão do abandono? Nessas horas difíceis, devemos agir como Jesus (Veja Lucas 26:39-43). Orar a nosso Pai Celestial que está atento ao sofrimento de seus pastores, e os responde com conforto e aprovação. Quando se sentir lá embaixo, lembre-se que a ajuda vem de cima. Levante o rosto e clame a Deus. Você não será desapontado. 

Olhando para frente, sei que uma pergunta os perturba. O que fazer primeiro? Das inúmeras atividades relevantes, cinco são cruciais no ministério:

Pregar – Em uma visita a nosso seminário, o pastor Otimar Gonçalves, presidente da Missão Alagoana, afirmou que “a maior arma do pastor é o púlpito.” Pregar a palavra de Deus “é um dos mais sagrados deveres do pastor”, desde os tempos da Igreja Primitiva (Atos 6:4). Não deveríamos enfatizar nenhuma outra coisa a despeito da pregação bíblica[6]. André Blackwood escreveu que a pregação,

deveria ser considerada a mais nobre tarefa que existe na Terra. Aquele que é chamado por Deus para proclamar o evangelho deveria destacar-se como o homem mais importante na sua comunidade, e tudo quanto fizesse para Cristo e para a igreja deveria manifestar-se na sua pregação. No púlpito, ele deverá fazer muito do seu melhor trabalho para o tempo e para a eternidade. Em geral, devemos empregar nossos superlativos parcimoniosamente, mas não quando falamos da obra do pregador.[7] 

Liderar – Sem liderança não há transformação na vida da igreja. O pastor, em minha concepção, deveria liderar mais e administrar menos. Embora essa equação penda mais para o lado da administração de recursos e processos, o ministro, seguindo as orientações de Ellen White, deveria liderar pessoas e atividades. Como disse John Maxuell “liderança é influência, nada mais, nada menos”. Existem poucos profissionais que, além do ministro consagrado, tenham tantas oportunidades de influenciar positivamente as pessoas. Seja um caçador de talentos. Prepare outros líderes para serem melhores que você. Desenvolva pessoas. Dê oportunidade a elas para crescerem. Ensine pelo exemplo.

Evangelizar – Embora pareça óbvio, o evangelismo precisa ser o foco pastoral. O ministro do evangelho existe para isso e foi chamado para isso. Tudo o que faz tem um único propósito: salvar pessoas para o reino de Deus. O batismo de uma pessoa é a maior alegria do pastor. Por essa razão, deveria ser sua prioridade. Pessoalmente faça sua parte evangelizando pessoas e persuadindo os membros a desempenhar essa nobre tarefa. O pastor precisa abrir novos campos, através do plantio de igrejas e do estabelecimento de pequenos grupos. Não deveríamos pensar que a nossa responsabilidade é apenas administrar nosso distrito. Temos um dever para com a área ou a cidade onde esse distrito está inserido. Toda a área e pessoas ali presentes são o nosso campo missionário. O pastor adventista de hoje deve ser como os pioneiros de outrora. Desejar ardentemente conquistar o mundo para Cristo.

Ensinar – Vivemos em uma sociedade que supervaloriza o aspecto emocional e experimental da religião, em detrimento dos aspectos cognitivo e normativo. Embora a emoção tenha o seu lugar na adoração, ela não pode substituir a Palavra Revelada de Deus. A fé de muitos não se baseia no claro “assim diz o Senhor”, mas no opaco “assim dizem as minhas emoções”. Segundo a Bíblia, o nosso coração pode nos enganar (Jeremias 17:9), mas quando estamos alicerçados sobre os ensinos escriturísticos, permanecemos seguros (Mateus 7:24-27). Para evitar o divórcio entre a práxis da igreja e a Escritura, o pastor deve ser um maestro do ensino bíblico. É por isso que ele precisa continuar estudando a Bíblia com esmero. Deve manter-se atualizado teologicamente, a fim de ensinar suas ovelhas a alimentar-se do maná do céu.

Visitar – Porque a visitação pastoral é tão essencial? Porque no recôndito do lar, o coração se abre como em nenhum outro lugar. Em casa os irmãos contam seus problemas e tiram suas máscaras. O lar representa o coração. Aí as pessoas se sentem a vontade para buscar ajuda e clamar por socorro. Quando o pastor visita o membro em casa, ele o escuta com atenção na igreja. Quando o pastor ajuda o membro no lar, ele trabalha por outros na rua. Se escrevêssemos numa lista as atividades mais corriqueiras do trabalho pastoral no século XXI, talvez atender o celular estaria no topo.  Depois talvez viesse dirigir, usar o notebook ou acessar a internet. Visitar, pasmem, estaria no fim da lista. É preciso refazer nossa lista de atividades diárias, priorizando as coisas mais importantes.

Como cumprir adequadamente esse quinteto pastoral? Talento para isso vocês tem de sobra. Oportunidades não faltarão. Materiais tão pouco. Mas lembrem de pregar, evangelizar, liderar, ensinar e visitar respeitando seus limites físicos e emocionais. “Muitos pastores são vítimas de esgotamento emocional e desgaste físico, e acabam abreviando sua vida útil na Causa de Deus”.[8] Muitos fatores são determinantes nesse esgotamento. Esses fatores podem variar de acordo com a estrutura de cada um e suas condições de trabalho. As soluções principais, no entanto, são:

1.      Buscar alimento espiritual cada dia.
2.      Tomar tempo para si mesmo e para a família.
3.      Procurar o equilíbrio na alimentação, sono e exercícios físicos.
4.      Procurar fazer parte de um pequeno grupo de oração e apoio espiritual.
5.      Buscar ajuda (amigo ou profissional).[9]

Queridos amigos, o período de preparação ministerial terminou. Vocês conseguiram. Graças a Deus e nossos pacientes professores, estão prontos para assumir o ministério. Daqui para frente, quando surgirem os problemas, olhem para trás. Assim como Deus deu a vitória no passado, os fará triunfar no futuro. A igreja os espera. O mundo os necessita. O céu os apoia. O universo os contempla. Êxito!

Ribamar Diniz
Bacharel em Teologia, aluno do SALT-Bolívia e editor da Revista Doxa.

Referências:


[1] Durante o concílio de pastores da Associação Sul-Matogrossense, Campo Grande, 07 de fevereiro de 2012. 
[2] Mac Brunson, citado em Revista Ministério, maio-junho de 2008, 33.
[3] Anônimo, citado em Revista Ministério, maio-junho de 2008, 33.
[4] Willie E. Hucks II, “O Getsêmani do pastor”, Revista Ministério, maio-junho de 2008, 2.
[5] Ver Idem.
[6] Ibidem, 3.
[7] Idem.
[8] Alberto D. Nery, “Respeite seus limites”, Ibidem, 23.
[9] Idem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário