Quando eu era
adolescente e estudava no Ginásio Franciscanos, decidi participar dos famosos
Jogos Estudantis de Juazeiro do Norte, cidade nordestina conhecida como a terra do Padre Cícero. Sempre gostei de
correr, desde a infância. Lembro que, nos recreios, corria até a cantina para o
lanche. Como minha classe estava bem distante da cantina, eu ficava
impressionado, pois chegava entre os primeiros da fila.
Meu treinamento para os
jogos foi muito informal, já que poucos alunos participaram dos jogos. Então,
treinei um pouco com um colega, no próprio colégio. Ele tinha cronometro e
outros equipamentos, mas eu não tinha nada. Conhecia várias técnicas, mas eu não
dominava nenhuma. Treinávamos, dando voltas no pátio do colégio. O colega ajuda-me
marcando o tempo. Descobri que colocando os braços numa determinada posição,
poderia ser mais veloz.
No dia marcado, fui até
o Estádio Romeirão, onde seriam realizadas as provas. Descobri, com certa
tristeza, que a professora de educação física havia-me escrito na prova de 200
metros rasos, para a qual eu não estava preparado. Apesar disso,
classifiquei-me para a final e consegui o terceiro lugar. Ela, entusiasmada,
parabenizou-me dizendo que, quando me viu correr os primeiros 100 metros, pensou
que eu ganharia. Realmente eu era muito bom nos 100 metros. Também participei
da prova de salto em altura, conseguindo um resultado melhor (segundo lugar),
apesar de não conhecer nenhuma técnica nem haver treinado.
Creio que essas medalhas
foram as duas primeiras conquistados na história de meu colégio. Isso elevou
minha autoestima e deu-me o sendo que podia fazer grandes coisas. Essa minha
experiência com o atletismo, ilustra certas verdades espirituais:
A vida crista é uma corrida, com muitos obstáculos no
caminho. O apóstolo Paulo usa varias metáforas interessantes
para exemplificar a vida cristã. Por viver num mundo greco-romano, conhecia
muito bem a mentalidade das pessoas, e como podia alcançá-los com essas
comparações. Uma de suas metáforas mais interessantes é a de um atleta: “Não sabem que no estádio todos
os corredores tomam parte na corrida, mas só um é que recebe o prémio? Corram,
portanto, de maneira a poderem recebê-lo. Aqueles que se preparam para uma
competição privam-se de tudo. E fazem-no só para ver se conseguem um prémio
que, afinal, dura pouco. Mas nós trabalhamos por um prémio que dura para
sempre. É desta maneira que eu corro e não como quem corre sem saber para onde.
É assim que eu luto e não como quem dá socos à toa. Mas eu luto contra o meu
corpo, para o dominar, a fim de não acontecer que, andando a pregar aos outros,
seja rejeitado por Deus. (1Co 9:24-27 SBP).
Como disse Paulo, todos estamos envolvidos numa competição.
Na maratona da vida cristã encontramos muitos obstáculos. Devemos lutar contra
o pecado e obter a melhor preparação possível, com a ajuda de Deus e seus
métodos (Efésios 6) para finalmente chegar na linha de chegada.
Devemos aproveitar as oportunidades para crescer
espiritualmente. Embora
eu não entendesse todos os detalhes da competição, não quis apenas assistir,
mas representar meu colégio. Não sabia que iria ganhar medalhas, pois era um
principiante no atletismo. Da mesma maneira podemos crescer espiritualmente.
Sempre surgem momentos oportunos para isso. Uma semana de ênfase espiritual; um
retiro dessa natureza; uma “arrancada missionária”; um dia de jejum e oração. Devemos
aproveitar cada oportunidade para crescer em nosso relacionamento com o Senhor.
Lembra-se de Zaqueo? Imagine se ele não tivesse aproveitado a chance de
encontrar-se com Cristo? Muitas vezes, perdemos áureas oportunidades em nossa
vida, por diferentes motivos. O jovem rico, por exemplo, preferiu suas riquezas
a entregar-se a Jesus, perdendo uma oportunidade que não voltou a repetir-se (Lucas
18).
Não é preciso receber treinamento especial para ser
um atleta de Cristo. Algumas
pessoas pensam que é necessário ser um expert em teologia, crescimento de
igreja, e outros temas para serem verdadeiros cristãos. Embora seja importante
ter uma boa base teológica, não é essencial para o crescimento na graça (João
15). Realmente, seria uma benção se mais cristãos buscassem um melhor preparo
intelectual, em um Seminário de Teologia ou mesmo com o estudo de bons livros.
Entretanto, não podemos
esquecer que “a vida eterna consiste em conhecerem-te como único Deus verdadeiro e a
Jesus Cristo, a quem enviaste. (João 17:3 SBP). Tenho um amigo que uma vez me disse: Há muita
diferença entre conhecimento teológico e comunhão com Deus. Embora não
concorde totalmente, há verdade nessa frase. Conquanto possamos conhecer mais a
Palavra de Deus com os idiomas originais e aprendendo a fazer exegese do texto
sagrado, isso não substitui a vida devocional, que cada pessoa deve priorizar. A
vida crista é simples, e qualquer pessoa, mesmo com pouca cultura, pode crescer
espiritualmente, através da leitura da Bíblia, da oração cotidiana e de uma
vida de testemunho. Mesmo sem conhecer as melhores técnicas, eu obtive um
resultado melhor que meu amigo, que conhecia muito da teoria do Atletismo. É inútil
ser um teólogo de primeira e um cristão de segunda. O melhor seria unir as duas
coisas. Uma boa base teórica, sempre alicerçada pela prática.
Participar da corrida é bom, ganhar a vida eterna é
melhor. Embora eu tenha
desfrutado da emoção de ser um dos participantes dos Jogos Estudantis, no fundo
queria obter um resultado positivo. Estar no estádio com outros milhares de
alunos de diversas escolas, não era suficiente. Eu queria e sabia que poderia
lutar por uma vitória. Sabia que meus oponentes estavam mais bem preparados. Apensar
disso consegui dois resultados muitos bons.
Embora o cristão deva aproveitar
as coisas boas dessa vida, o mais importante é pensar na vitória final, quando
Jesus regresse pela segunda vez, para dar a recompensa a cada um, conforme a
suas obras (Mateus 25). Como aconteceu no meu caso, que venci mesmo sendo
inferior tecnicamente, aqueles que entrarão no céu no será por mérito pessoal,
pois a salvação é por graça, mediante a fé no sacrifício de Jesus (Efésios 2).
Se perdermos a vida
eterna, será em vão havermos entregado a vida a Cristo; estudado a Bíblia
durante toda a vida; calejado os joelhos em oração; sentido o sol nas
atividades missionárias; dedicado os recursos para a pregação do evangelho ou assistido
a igreja tantos vezes. Se não perseveramos até o fim, não seremos salvos
(Mateus 24:13). Que possamos aproveitar a vida para preparar-nos para o
desfecho final, que está prestes a ocorrer, com a “manifestação gloriosa do nosso
grande Deus e Salvador Jesus Cristo” (Tito 2:13 SBP).
Ribamar Diniz
Bacharel em Teologia, Diplomado em Investigação Científica e Concluinte do Teológico no Seminário Latino-americano de Teologia (sede Bolívia).
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