Essa é a primeira de uma série de
reflexões sobre os melhores momentos vividos por Ribamar Diniz e família
durante sua preparação para o ministério pastoral, na Universidade Adventista
da Bolívia.
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Visita a Divisão Sul Americana |
Algum tempo depois de chegar à Bolívia
para estudar teologia, decidi conhecer pelo menos quatro países da América do
Sul. Visitando esses lugares, poderia entrar em contato com a cultura local e com
a família de Deus aí reunida. Interessavam-me especialmente as características
da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) e seu trabalho nessas terras. Isso ampliaria
minha visão sobre a Obra de Deus na Divisão Sul Americana (sede da IASD para
oito países desse continente).
Entre tantos destinos, escolhi meu próprio
país (Brasil); Bolívia (onde estou estudando), Equador (o país que divide o
mundo) e Chile (onde o continente americano termina). Essa reflexão descreve
meu contato com a cultura, com os pontos turísticos e alimentação, além de
detalhar alguns traços da IASD nos países mencionados.
Onde consegui tanto dinheiro para as
viagens? Simples: Meu orçamento estaria vinculado ao trabalho que desenvolveria
nas férias - colportagem evangelística. O universitário adventista pode aproveitar
as férias para evangelizar e fazer turismo ao mesmo tempo, distribuindo
literatura denominacional. É só planejar bem, fazer os devidos contatos e ter certa
dose de ousadia e fé. Os resultados compensam os riscos. Os benefícios são bem
maiores do que o investimento, que será minimizado pelo trabalho de
colportagem. Quando eu e a família não estávamos em campanhas (com uma casa
alugada); fomos acolhidos com muito carinho por amigos e igrejas, que nos
fizeram sentir-nos em nosso próprio lar.
A mãe do pastor mexicano Arturo
Betancourt, um amigo que conheci na Bolívia, afirma que para ser inteligentes,
devemos ler bastante e viajar muito. Além disso, aventurar-nos por lugares
desconhecidos e desafiadores aumenta nossa fé e proporcionam momentos de intimidade
com o Senhor. Por outra parte, torna-nos mais sensíveis e tolerantes para com o
próximo. O intercambio de ideias com pessoas de outros ambientes, enriquece
nossa bagagem cultural. Percebemos que, apesar de serem diferentes em sua forma
de falar, de pensar e de agir, as pessoas têm as mesmas carências e necessidades
espirituais. Essas são algumas das vantagens de visitar outro país.
Explorando um gigante
Depois de percorrer quatro das cinco
regiões brasileiras (somente não fui à região Sul), adquiri uma maior
apreciação por meu próprio país. Percebi quão pouco sabia acerca da nossa
cultura e de nossa história. A mistura étnica entre os brasileiros e os
contrastes socioculturais, torna esse país um universo com imagens, sons, cores,
sabores e sensações únicas. O brasileiro é alegre e criativo por natureza. Nos
últimos anos, com o crescimento econômico do país, milhares de famílias
melhoraram sua renda, o que favorece o trabalho dos colportores evangelistas.
Entre os destinos turísticos, conheci a cidade das mangueiras (no Pará); a
estátua do Padre Cícero (no Ceará); a praça dos três poderes (em Brasília); a
cidade do Natal (no Mato Grosso do Sul) e parte da fauna e flora do Pantanal
mato-grossense. Entre os pratos típicos, provei o frango no tucupi e a maniçoba
(no Pará); a tapioca de coco na palha da bananeira (em Rondônia); o baião de
dois (no Ceará); a sopa paraguaia (no Mato Grosso do Sul); o doce de buriti (em
Brasília) entre outros.
Distribuí literatura adventista em varias
cidades das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro Oeste. Entre outras características
positivas, nas duas primeiras regiões a igreja é vibrante e entusiasta. Embora
não conte com muitos recursos financeiros, supera desafios incríveis para pregar
o evangelho. Na região Centro Oeste e Sudeste, a Igreja é muito organizada e
planeja bem suas atividades. Além disso, estão focados no plano de discipulado
e pequenos grupos.
Sem dúvida, São Paulo (onde estive 10
dias, em 2008), é um grande centro da Obra Adventista. É a Jerusalém Adventista
na América do Sul. Além de abrigar a Casa Publicadora Brasileira, a Rede Novo
Tempo de Comunicação e o Centro Universitário Adventista de São Paulo, possui
sedes administrativas bem estruturadas e um grande volume de recursos, graças à
fidelidade de seus membros, sendo palco de megaeventos da igreja. Nessa metrópole
sul-americana, notei como nossa igreja é grande, graças às bênçãos de Deus e a fidelidade
de seus membros.
O Estado brasileiro onde mais trabalhei
nessa fase foi o Mato Grosso do Sul. Fiquei encantado com Campo Grande, uma
capital tranquila, bonita e bem organizada. Também estive em várias cidades do
interior, como Rio Verde, São Gabriel do Oeste, Cidrolandia, Corumbá, etc. Durante minha estadia no Estado, visitei o Paraguai,
aproveitando os bons preços da cidade de Pedro Juan Caballero.
Microcosmos do mundo
A Bolívia é considerada um país
plurinacional, com 32 etnias diferentes e o predomínio dos idiomas espanhol,
quéchua e aimará. Devido a sua enorme variedade de climas, vegetação e
geografia foi descrita por Alcides D’Orbigny como microcosmos do planeta e
síntese do mundo. Outro fato curioso, pouco conhecido, é que sua capital é
Sucre, e não La Paz (sede de governo) como aparece nos livros de geografia.
Entre 2008 e 2013, visitei sete (Cochabamba, La Paz, Santa Cruz de la Sierra,
Pando, Beni, Oruro e Potosí) dos nove estados bolivianos. Estive no monumento Cristo de la Concórdia (maior que o
Cristo Redentor); escalei o Tunari (a 5.050 metros de altitude) e passeei pela cidade
paleontológica de Toro Toro, palco de pegadas de dinossauros e outras evidências
do Dilúvio Bíblico.
A Igreja Adventista na Bolívia é muito
hospitaleira. Os almoços coletivos estão entre as atividades que fortalecem a
amizade entre os membros. Os irmãos das regiões mais frias (como La Paz e
Oruro) dedicam as madrugadas para evangelizar. A ADRA (Agência Adventista de
Desenvolvimento e Recursos Assistenciais) é uma das mais estruturadas do mundo.
A União Boliviana também foi pioneira no desenvolvimento da rádio adventista para
o território da Divisão. Atualmente conta com três campos, planejando a
abertura da Missão Andina para um futuro próximo. Atualmente a Universidade
Adventista da Bolívia é berço de muitos missionários que estão se destacando em
diversos países sul-americanos.
No país que divide o mundo
O próximo destino foi mais distante:
Equador, o famoso país que contem uma linha imaginária que divide o globo entre
hemisfério Sul e Norte. Também abriga as exóticas Ilhas Galápagos, com suas
tartarugas gigantes e outros espécies raros. Em julho de 2011 visitei essa nação,
conhecendo especialmente quatro cidades do litoral (Guayaquil, Manta;
Montrecristi e Salinas). O povo equatoriano é muito alegre. É espontâneo como o
brasileiro.
O Equador é o maior exportador de
bananas da América do Sul, tendo diversos pratos dessa fruta. Desfrutei algumas
iguarias feitas com bananas. É possível que o consumo de banana contribua para
o bom animo desse povo, pois ela é considerada uma fruta antidepressiva. Além disso, provei o famoso seviche, peixe cozido apenas com limão. Visitei,
em Montecristi, “La ciudad del Faro”, museu construído em homenagem a um herói
da independência do país e uma praia em Salinas, banhando-me pela primeira vez
nas águas do Oceano Pacífico. Durante a viagem por terra, cruzei boa parte do
Perú, sede do famoso Império Inca, visitando o Lago Titica (o mais alto do
mundo); o Majestoso Convento de São Francisco e o Museu da Inquisição em Lima,
capital peruana, além de comer trucha,
um dos pratos da culinária peruana, considerada uma das melhores do mundo.
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Lago Titicaca, Perú |
Embora o número de adventistas no
Equador seja relativamente pequeno (uns 15 mil) a igreja está crescendo
bastante nos últimos anos. A União Equatoriana se divide em duas Missões (Sul e
Norte) e possui um Instituto Tecnológico Superior, que planeja ser universidade
no futuro. No Equador algumas igrejas realizam um culto de oração nas segundas
feiras à noite. É um excelente campo para colportar, pois, como me disse o
pastor Manuel Vinueza, diretor de Publicações na Missão do Sul, essa região “é
a terra que mana leite e petróleo”. Na União Equatoriana, o estudante recebe um
kit completo para seu trabalho (camiseta, pasta e prospecto) e metade do bônus
da bolsa, caso não consiga completar a bolsa.
Onde o mundo acaba
O último desafio seria visitar o Chile,
um dos países mais desenvolvidos das três Américas. Segundo alguns
especialistas, esse será o primeiro país sul americano a vencer o
subdesenvolvimento. Além disso, Chile está situado no ponto mais extremo da
América do Sul, por isso, pode ser considerado o “país onde o mundo acaba”.
Viajei de Cochabamba a Arica, uma
cidade localizada no Norte do país. O Chile está dividido entre Norte e Sul,
sendo Santiago (sua capital) o que reparte essas regiões. O Sul é extremamente frio
e o Norte é muito quente. Ultimamente algumas cidades do Norte (como Arica),
devido às mudanças climáticas, estão mais frias que antes. Nas duas regiões, o
povo chileno toma muito “té” (chá), sendo o evento social mais importante entre
as famílias e amigos. Além disso, tem um espanhol apressado, ou “al tiro” (ao
instante, rapidamente), expressão popular aí.
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Museu das Múmias, Arica - Chile |
Os chilenos em geral, são bastante
educados e cultos. No trânsito, para citar um exemplo, param seus veículos
quando colocamos o pé no asfalto, acenando com a mão para que passemos com
tranquilidade. Também são solícitos em fornecer informação e recebem muito bem
aos brasileiros. O Chile é um país bem organizado, com um sistema de leis; educação,
segurança e saúde, bem desenvolvidos. Além disso, conta com uma das melhores
polícias do mundo. Por ser uma região sísmica, conscientiza a população e realiza
periodicamente simulados para grandes catástrofes. Em Arica conheci as múmias
mais antigas do mundo; e o Cerro de Arica, onde há um museu que conta parte da
Guerra do Pacífico.
A União Chilena está dividida em cinco campos;
possui uma filial da Associación Casa Editora Sudamericana (onde imprimem parte
das publicações para a igreja e Colportagem); dezenas de escolas (com 25 mil
alunos) e uma Universidade na cidade de Chillán, no extremo sul do país.
A Igreja, com certa frequência, recebe
missionários brasileiros. Nos últimos anos, trabalharam nesse lugar os pastores
Adílson Morais e João Vicente (colportagem), Stanley Arco (Ministério Jovem) e Jeú
Caetano (Mordomia). Devido ao frio, em algumas localidades, só se realizam
cultos nos sábados e nas quartas-feiras.
Para complementar as viagens, tive
contato com irmãos da igreja, amigos e professores de outros países sul-americanos
e de outras partes do mundo. Passear por esses países e conversar com essas
pessoas me convenceu que fazemos parte de uma grande família. Fez-me refletir
sobre o enorme número de pessoas que ainda não conhecem as verdades bíblicas. E
motivou-me a aumentar meu compromisso de fazer discípulos de todas as nações,
até que o Senhor venha (Mateus 28:18-20). Você não gostaria de fazer o mesmo?
Ribamar Diniz, sua esposa Cícera Diniz e seus filhos Lohan e
Landon moram em Cochabamba (Bolívia), onde ele está concluindo sua preparação
ministerial no Seminário Adventista Latino Americano de Teologia e servindo como
vice-presidente da Sociedade Estudantil Honorífica de Investigação Teológica e editor
da Revista Doxa.