Centro de Arica, Chile |
Quando viajei ao Chile, pensei que as
coisas seriam mais fáceis. Se você já distribuiu literatura adventista, sabe
que esse ministério é repleto de desafios, às vezes intransponíveis. Em minhas
campanhas anteriores como estudante, havia enfrentado grandes obstáculos.
Geralmente os resultados apareciam no final do trabalho (geralmente nas últimas
semanas ou dias). Mas, no Chile, pensei que as coisas seriam diferentes. Porque
eu pensava assim?
Em primeiro lugar, eu iria distribuir um
livro de minha autoria. Isso poderia facilitar as vendas, já que seu preço
seria bem inferior aos livros tradicionais de Colportagem. Em segundo lugar, eu
já era um colportor experiente, com nove férias trabalhadas. Essa experiência impediria
que eu cometesse erros. Em terceiro lugar, meu projeto era muito bom, e a
igreja certamente iria abraçá-lo. Eu realmente estava confiante. Afinal de
contas, seria minha última campanha. Não haveria porque surgirem problemas.
As primeiras dificuldades, como vocês
leram, começaram na viagem. Depois de chegar, nos primeiros dias tive um misto
de alegria e preocupação. Alegria porque
consegui agendar algumas igrejas evangélicas. Preocupação porque outras igrejas
não aceitaram a proposta, por puro preconceito. Uma pastora e um pastor
evangélico disseram-me que a Igreja Adventista “era uma seita.” Na minha
igreja, pensava, as coisas seriam diferentes. Mas descobri que a maioria delas
não realizava cultos nos domingos à noite. E o número de participantes nas
quartas-feiras á noite era bem reduzido. Isso me fez pensar que não será fácil
mover o povo adventista de Arica. Outro problema apareceu, de forma
involuntária.
A
Igreja Adventista do Sétimo Dia no Chile, a semelhança do país, está bem
organizada. Quando alguém pretende trabalhar junto às igrejas, precisa
solicitar uma autorização da União e do Campo local. Por vários motivos, a autorização
que solicitei não chegou a tempo e os pastores locais, com razão, não puderam permitir-me
visitar suas igrejas e membros, nas primeiras semanas.
Público em uma das primeiras palestras |
Consegui
vender os primeiros livros no Colégio Adventista de Arica, graças ao apoio do
capelão, Juan Marin e do diretor, Prof. Marcelo Funes. As vendas nas igrejas
evangélicas não foram animadoras. Somando o que havia vendido, e olhando as
caixas de livros, pensava se não havia trazido muito material. Raciocinava se,
não seria melhor haver trazido apenas 300 exemplares. Calculava que precisaria vender
15 exemplares por dia, durante o mês, mas estava vendendo poucos durante a
semana. Além do desanimo das vendas, tive problemas de saúde.
No
primeiro sábado em Arica, senti um mal estar generalizado. Estava tão debilitado,
que fui até o Hospital Municipal, onde tomei soro e fui medicado. Aquele sábado
não sentei em um banco para assistir ao culto, pois passei parte da manhã no
leito de um hospital. Já no final das atividades, precisei regressar ao
hospital, por causa de uma inflamação nas amidalas. Esses problemas de saúde
quitaram parte do pouco dinheiro que tinha e abalaram fortemente minhas
emoções.
Além
dos problemas de saúde, fui roubado. Furtaram-me uma bicicleta. Esse camelo era emprestado. Um irmão da
Igreja me havia emprestado para agilizar o trabalho. Apesar de não ser a moto
que eu sonhava, a bicicleta estava ajudando. Tudo aconteceu numa lanhouse, quando estava conversando com a
esposa pelo facebook. Deixei a bicicleta sem cadeado. Apesar disso, olhava
pelas brechas da cabine, vendo a bicicleta. Num piscar de olhos, a bicicleta
sumiu. Saí correndo da cabine, correndo e olhando por todos os lados, mas não
vi nada. Perguntei a algumas pessoas, explicando o que havia acontecido, mas
ninguém viu nada. Chamamos os Carabineiros (Polícia Chilena) que fizeram a
ocorrência no local, mas disseram ser difícil encontrar a bicicleta.
Retornei
ao lugar onde estava hospedado, sem muita preocupação. Sabia que Deus tinha um
plano em tudo aquilo. Quando a atendente da lanhouse
soube, ficou um pouco triste. Sabendo que ela era adventista, mas não estava
assistindo a igreja, disse-lhe, tranquilamente: “Sabe, irmã, foi bom ter
acontecido isso, porque é mais uma prova que esse mundo não é para nós. Devemos
viver um lugar melhor”. Espero que essas palavras tenham motivado aquela irmã a
regressar para a Igreja.
Igreja Tucapel, onde fui hospedado alguns dias |
Estava
tão preocupado com as vendas naquelas primeiras duas semanas que apresentei o
livro a algumas pessoas que conheci na Pensão de Dona Patty, mas elas nem
perguntaram o preço. Isso me preocupou ainda mais. Cheguei a pensar que, se os
problemas continuassem, seria prudente trasladar-me a Iquique, a cinco horas de viagem. A minha
maior alegria, aqueles dias, foi acompanhar a vitória do Brasil (3x0) frente à
Espanha, pela Copa das Confederações. Além desses problemas, algumas pessoas me
desanimaram, motivando-me a viajar logo a outro lugar.
Alguns
disseram que seria melhor ir as cidades mineiras (Iquique, Antofagasta e
Calama), ou a Santiago (a capital do país). Outros disseram que as pessoas de
Arica não compram, porque não tem muito dinheiro disponível e tem outra
cultura. Isso me confundia. Mas, a todos esses críticos de plantão, respondia
respeitosamente que, como havia orado por Arica, só deixaria a cidade se Deus
me orientasse.
Minha
oração naqueles dias era: Que o Senhor me
ajude. Ele me ajudou de forma espetacular...
Ribamar Diniz e sua família moram em Cochabamba (Bolívia),
onde ele está concluindo sua preparação ministerial no Seminário Adventista
Latino Americano de Teologia e servindo como vice-presidente da Sociedade
Estudantil Honorífica de Investigação Teológica e editor da Revista Doxa.
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