sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Aventura “no fim do mundo”: Os desafios

Centro de Arica, Chile
Quando viajei ao Chile, pensei que as coisas seriam mais fáceis. Se você já distribuiu literatura adventista, sabe que esse ministério é repleto de desafios, às vezes intransponíveis. Em minhas campanhas anteriores como estudante, havia enfrentado grandes obstáculos. Geralmente os resultados apareciam no final do trabalho (geralmente nas últimas semanas ou dias). Mas, no Chile, pensei que as coisas seriam diferentes. Porque eu pensava assim?
Em primeiro lugar, eu iria distribuir um livro de minha autoria. Isso poderia facilitar as vendas, já que seu preço seria bem inferior aos livros tradicionais de Colportagem. Em segundo lugar, eu já era um colportor experiente, com nove férias trabalhadas. Essa experiência impediria que eu cometesse erros. Em terceiro lugar, meu projeto era muito bom, e a igreja certamente iria abraçá-lo. Eu realmente estava confiante. Afinal de contas, seria minha última campanha. Não haveria porque surgirem problemas.  
As primeiras dificuldades, como vocês leram, começaram na viagem. Depois de chegar, nos primeiros dias tive um misto de alegria e preocupação. Alegria porque consegui agendar algumas igrejas evangélicas. Preocupação porque outras igrejas não aceitaram a proposta, por puro preconceito. Uma pastora e um pastor evangélico disseram-me que a Igreja Adventista “era uma seita.” Na minha igreja, pensava, as coisas seriam diferentes. Mas descobri que a maioria delas não realizava cultos nos domingos à noite. E o número de participantes nas quartas-feiras á noite era bem reduzido. Isso me fez pensar que não será fácil mover o povo adventista de Arica. Outro problema apareceu, de forma involuntária.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia no Chile, a semelhança do país, está bem organizada. Quando alguém pretende trabalhar junto às igrejas, precisa solicitar uma autorização da União e do Campo local. Por vários motivos, a autorização que solicitei não chegou a tempo e os pastores locais, com razão, não puderam permitir-me visitar suas igrejas e membros, nas primeiras semanas.
Público em uma das primeiras palestras
Consegui vender os primeiros livros no Colégio Adventista de Arica, graças ao apoio do capelão, Juan Marin e do diretor, Prof. Marcelo Funes. As vendas nas igrejas evangélicas não foram animadoras. Somando o que havia vendido, e olhando as caixas de livros, pensava se não havia trazido muito material. Raciocinava se, não seria melhor haver trazido apenas 300 exemplares. Calculava que precisaria vender 15 exemplares por dia, durante o mês, mas estava vendendo poucos durante a semana. Além do desanimo das vendas, tive problemas de saúde.   
No primeiro sábado em Arica, senti um mal estar generalizado. Estava tão debilitado, que fui até o Hospital Municipal, onde tomei soro e fui medicado. Aquele sábado não sentei em um banco para assistir ao culto, pois passei parte da manhã no leito de um hospital. Já no final das atividades, precisei regressar ao hospital, por causa de uma inflamação nas amidalas. Esses problemas de saúde quitaram parte do pouco dinheiro que tinha e abalaram fortemente minhas emoções.
Além dos problemas de saúde, fui roubado. Furtaram-me uma bicicleta. Esse camelo era emprestado. Um irmão da Igreja me havia emprestado para agilizar o trabalho. Apesar de não ser a moto que eu sonhava, a bicicleta estava ajudando. Tudo aconteceu numa lanhouse, quando estava conversando com a esposa pelo facebook. Deixei a bicicleta sem cadeado. Apesar disso, olhava pelas brechas da cabine, vendo a bicicleta. Num piscar de olhos, a bicicleta sumiu. Saí correndo da cabine, correndo e olhando por todos os lados, mas não vi nada. Perguntei a algumas pessoas, explicando o que havia acontecido, mas ninguém viu nada. Chamamos os Carabineiros (Polícia Chilena) que fizeram a ocorrência no local, mas disseram ser difícil encontrar a bicicleta.
Retornei ao lugar onde estava hospedado, sem muita preocupação. Sabia que Deus tinha um plano em tudo aquilo. Quando a atendente da lanhouse soube, ficou um pouco triste. Sabendo que ela era adventista, mas não estava assistindo a igreja, disse-lhe, tranquilamente: “Sabe, irmã, foi bom ter acontecido isso, porque é mais uma prova que esse mundo não é para nós. Devemos viver um lugar melhor”. Espero que essas palavras tenham motivado aquela irmã a regressar para a Igreja.  
Igreja Tucapel, onde fui hospedado alguns dias
Estava tão preocupado com as vendas naquelas primeiras duas semanas que apresentei o livro a algumas pessoas que conheci na Pensão de Dona Patty, mas elas nem perguntaram o preço. Isso me preocupou ainda mais. Cheguei a pensar que, se os problemas continuassem, seria prudente trasladar-me a  Iquique, a cinco horas de viagem. A minha maior alegria, aqueles dias, foi acompanhar a vitória do Brasil (3x0) frente à Espanha, pela Copa das Confederações. Além desses problemas, algumas pessoas me desanimaram, motivando-me a viajar logo a outro lugar.
Alguns disseram que seria melhor ir as cidades mineiras (Iquique, Antofagasta e Calama), ou a Santiago (a capital do país). Outros disseram que as pessoas de Arica não compram, porque não tem muito dinheiro disponível e tem outra cultura. Isso me confundia. Mas, a todos esses críticos de plantão, respondia respeitosamente que, como havia orado por Arica, só deixaria a cidade se Deus me orientasse.   
Minha oração naqueles dias era: Que o Senhor me ajude. Ele me ajudou de forma espetacular...
  
Ribamar Diniz e sua família moram em Cochabamba (Bolívia), onde ele está concluindo sua preparação ministerial no Seminário Adventista Latino Americano de Teologia e servindo como vice-presidente da Sociedade Estudantil Honorífica de Investigação Teológica e editor da Revista Doxa.  

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