Litoral de Arica, Chile |
Durante meus estudos em teologia na
Universidade Adventista da Bolívia, visitei quatro países, distribuindo
literatura cristã e pregando em dezenas de igrejas. Uma das melhores (e mais desafiadoras)
experiências aconteceu no Chile, em julho passado. Nunca imaginei que o último
período de férias seria tão difícil e abençoado, ao mesmo tempo.
Depois do Brasil, o Chile é o país mais
rico da América do Sul, sendo um dos mais desenvolvidos
das três Américas. Alguns
creem que será o primeiro país sul americano a vencer o subdesenvolvimento. Além
disso, está situado no ponto mais extremo de nosso continente, sendo considerado
o “país onde o mundo acaba”. Várias circunstâncias fizeram-me decidir conhecer
esse lugar.
Em primeiro lugar queria ter contato
com a Igreja Adventista do Sétimo Dia no Chile. Além disso, ouvi histórias de pastores
que trabalharam na região. Entre eles Felipe Santos (que se gradou na Unach e
hoje é pastor no Mato grosso do Sul); Jeú Caetano, natural de meu Estado
(Ceará) que foi departamental de Mordomia na União Chilena; Stanley Arco
(presidente da União Boliviana); João Vicente (gerente de vendas da CASA) e Adílson (departamental associado
de publicações da DSA).
O maior motivo, porém, foi entender que
Deus teria uma obra especial para eu realizar nesse lugar. Isso se tornou mais
evidente quando orei a Deus sobre a viagem, buscando Sua vontade a respeito. Certo
sábado, estava abancado na última fila da Igreja Central de Cochabamba.
Sentou-se ao meu lado uma jovem, de pele branca e alta. Eu disse-lhe: você não
é daqui. Ela respondeu: Sou chilena. Aí entendi tudo. Quando expus meu desejo
de conhecer seu país, Nayat garantiu que sua mãe (Carina Guerra) poderia
apoiar-me nesse sentido. Com seu número de celular na agenda; 500 livros na
bagagem e muita expectativa embarquei rumo a uma aventura.
No Terminal Rodoviário de Cochabamba, cambiei moeda local (peso boliviano)
para peso chileno, levando pouco dinheiro na carteira. A viagem de Cochabamba
até Arica, no Norte do Chile, levaria 12 horas. No caminho, mastiguei chiclete
para desobstruir os ouvidos, devido à altitude de Oruro, estado boliviano
limítrofe com Chile. Outros passageiros preferiam tomar comprimidos para a altura.
A paisagem durante o trajeto era imponente e variada, caracterizada por montanhas;
plantações diversas; rebanhos de ovelhas e lhamas e pequenos povoados.
Quando chegamos na fronteira,
vislumbrei duas montanhas cobertas de neve. O Ônibus parou na Aduana, onde a bagagem seria revistada.
Embora os agentes fossem muito educados, esclareceram que, a despeito de ser o
autor, tinha que pagar o imposto dos livros. Depois de contarmos os exemplares,
uma agente conseguiu um bom desconto, porque confessou que era amante da
leitura. O valor excedia os 20 mil pesos chilenos que eu tinha. Nesse momento,
pedi 2 mil pesos emprestado ao motorista, que estava bastante aborrecido pela
demora. Completei o valor trocando um pouquinho de dinheiro que ainda tinha.
Imediatamente ao entrarmos no ônibus, o
motorista disse que eu teria que pagar o excesso de bagagem. Apesar de aclarar
que, ainda no embarque, havia aclarado a mercadoria que levava, ele parecia
irredutível. Minha preocupação foi tanta que pensei que, por causa desse
problema, ele poderia deixar-me na estrada. Como fiquei sem nenhum centavo no
bolso, comecei a orar silenciosamente e pensar numa estratégia para conseguir
algum dinheiro.
Numa parada, já próximo de Arica,
conversei com uma jovem, que ao invés de emprestar-me, me deu 2 mil pesos “de
todo o coração”. Contei minha situação ao passageiro do lado. Ele empestou-me
somente mil pesos. Quando chegamos a Arica, umas 9 horas da noite, eu não
queria encarar o motorista. Felizmente ele estava dormindo. Por isso, deixei o
valor que devia com o novo motorista, quem de igual forma insistiu que eu
pagasse pelo excesso de bagagem. Quando lhe expliquei que já não tinha dinheiro,
ele deixou-me em paz. Desci em frente ao Terminal Internacional de Arica, um
pouco mais aliviado. Minha tranquilidade durou pouco.
Quando liguei para a irmã Carina Guerra
(usando um telefone público com moedas), ela disse que estava muito longe e me
deu o telefone do pastor distrital. Quando consegui falar com o pastor Yerri
Rozado, ele disse que estava na cidade de Iquique, há 5 horas dali. A
preocupação aumentava e minhas moedas acabavam, enquanto tentava explicar minha
situação ao pastor e a irmã, em várias tentativas. Quando já não consegui falar
com eles, pedi ajuda a uma jovem de um quiosque, que usou seu celular para
chamá-los.
Em determinado momento, pensei que
ficaria sozinho ali, tendo que dormir na rua. Também temia um assalto, pois me
haviam advertido sobre esse perigo. Nesse momento, angustiado, escrevi um
pedido simples, na agenda: “Oh, Deus, ajuda-me”.
Depois dessa oração, consegui falar com
a irmã Carina, que me perguntou com que roupa estava e veio buscar-me. Já eram
mais de 10 horas da noite. Ela levou-me a Pensão de Donde Patty Carlos, onde
fiquei hospedado os primeiros 10 dias. Também me deu uma pequena provisão para
o começo do trabalho. Depois de agradecer a Deus e dormir aquela noite, decidi
começar o trabalho no dia seguinte, quando vendi os primeiros livros. As duas
primeiras semanas foram muito difíceis...
Ribamar Diniz e sua família moram em
Cochabamba (Bolívia), onde ele está concluindo sua preparação ministerial no
Seminário Adventista Latino Americano de Teologia e servindo como vice-presidente
da Sociedade Estudantil Honorífica de Investigação Teológica e editor da
Revista Doxa.
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